Milhares de palestinos participam de protesto contra anexação sionista na Cisjordânia

Milhares de palestinos participam de protesto contra anexação sionista na Cisjordânia

Milhares de palestinos participam de manifestação contra anexação em Jericó, na Cisjordânia, 22/06/2020. Foto: Haaretz 

Milhares de massas palestinas compareceram, no dia 22 de junho, a uma manifestação em oposição ao plano de Israel que visa anexar cerca de um terço do território palestino da Cisjordânia no início de julho, com apoio do imperialismo ianque. O “Festival Nacional” ocorreu na cidade palestina de Jericó, localizada na região da Cisjordânia ocupada pelo colonialismo sionista e que está dentro da área prevista para ser anexada como território israelense. 

A promessa do governo genocida de Benjamin Netanyahu, primeiro-ministro israelense, é de que serão anexados os colonatos judeus construídos ilegalmente na Cisjordânia e no vale do rio Jordão. Essas medidas foram asseguradas no plano divulgado pelo Estados Unidos (USA) como “acordo do século”, que seria o projeto do imperialismo ianque para a “resolução” da questão palestina. 

A proposta do USA é de um Estado palestino desmilitarizado e completamente submisso ao imperialismo ianque e à Israel. Seria composto de uma colcha de retalhos de áreas descontínuas e desarticuladas dos territórios palestinos restantes (Faixa de Gaza e Cisjordânia) e perderia a capital Jerusalém para Israel. No entanto, nem sequer essa verdadeira partilha colonial da Palestina parece ser o suficiente para o colonialismo-sionista, que recusa qualquer possibilidade de existência de um Estado palestino.

Segundo denúncias de manifestantes, o Exército israelense tentou frustrar a realização do ato e implantou múltiplos bloqueios nas estradas à caminho de Jericó. Os veículos que transportavam palestinos de diversos pontos da Cisjordânia foram parados e inspecionados, os motoristas, interrogados sobre aonde estavam indo e alguns foram impedidos de chegar ao local. 

Mesmo tendo sido convocada pela Organização para a Libertação da Palestina (OLP) e seu órgão que dirige a Cisjordânia, a Autoridade Palestina, houve uma grande adesão popular ao ato, que celebrou a cultura palestina e contou com discursos de várias lideranças, em resposta à ameaça iminente de anexação. 

O atual governo da Autoridade Palestina, em colaboração com o imperialismo ianque e Israel, encabeça a perseguição aos grupos que se mantiveram no campo da Resistência Nacional e é inteiramente complacente com o processo de expansão do colonialismo israelense sobre a Cisjordânia, não impondo mínima oposição. 

Apesar de ter sido importante pela quantidade de pessoas que aderiu rapidamente ao movimento anti-anexação, uma vez que foi convocado com apenas um dia de antecedência, o protesto reproduziu esse caráter capitulacionista da OLP.  

Um aspecto disso foi, por exemplo, a forte presença de diplomatas da “Organização das Nações Unidas” (ONU), como o “enviado de paz” Nickolay Mladenov, que em sua fala tentou atirar areia nos olhos da multidão, instando os palestinos a aterem-se ao pacifismo como forma de resistir às agressões de Israel. “O povo da Palestina não se desespera (…), não se afasta do caminho da não-violência”, disse ele à multidão. 

O CAPITULACIONISMO DA OLP

Inicialmente, a OLP era uma congregação das várias organizações palestinas de Resistência Nacional, até se tornar hegemonizada pelo Al Fatah, partido que dirige a Autoridade Palestina hoje. O Fatah, então encabeçado por Yasser Arafat, capitulou à luta pela autodeterminação palestina e, em plena guerra de dominação contra o povo palestino, renunciou à luta armada e passou a advogar por uma “solução pacífica”, instituindo a OLP e a Autoridade Palestina sob os mandos do USA e Israel. 

Os Acordos de Oslo, de 1993, são o símbolo da capitulação do Fatah e de Arafat, em sequência aos grandes levantes populares palestinos iniciados em 1987 que ficaram conhecidos como a Primeira Intifada. Os acordos foram firmados entre a OLP e Israel, tendo como “mediador” o então presidente ianque, o reacionário Bill Clinton. 

Neles, o Fatah abandonou a defesa de um Estado binacional e passou a reconhecer oficialmente a existência do Estado de Israel e a usurpação das terras palestinas, dado que aceitou que os territórios chamados de Área B e C da Cisjordânia fossem colocadas sob o controle militar sionista, isto é, fossem ocupadas. Em um país como a Palestina, ocupada militarmente por Israel, tudo que gire fora da luta armada de libertação é, de algum modo, capitulação.

Em troca, os Acordos de Oslo relegaram à Palestina um punhado ínfimo de terras sem continuidade territorial e sitiados pelas forças israelenses, se não ocupados por elas, que pode ser comparado com os bantustões da África do Sul durante o apartheid. A sede da Autoridade Palestina em Ramallah, repetidamente atacada e bombardeada por Israel, era a alegoria máxima para a situação de humilhação do Fatah, e escancarou que a defesa do pacifismo e da conciliação travestem, de fato, a sua subserviência à Israel e ao USA. 

A capitulação da OLP e da Autoridade Palestina não impediu, todavia, a continuidade da luta por libertação na Palestina. O espírito indomável do povo palestino prossegue nas massas de jovens que não abaixam a cabeça para a ocupação e, mesmo com poucos recursos, se armam do que têm à mão, que sejam pedras, pipas incendiárias e estilingues. Um exemplo recente é a Grande Marcha do Retorno, movimento formado majoritariamente por lideranças jovens e que continua a batalhar pelo direito dos refugiados palestinos de voltarem às suas casas, em territórios ocupados por Israel. 

Mesmo que a Autoridade Palestina seja resolutamente incapaz de opor-se à construção de assentamentos israelenses e à transferência de colonos judeus para a Cisjordânia, os moradores palestinos continuam combatendo e resistindo às incursões de tropas sionistas em seus vilarejos e ao avanço da colonização israelense. 

E mesmo com todo o esforço do imperialismo ianque e de suas agências internacionais de impor o pacifismo como caminho da luta, a Resistência Nacional palestina se manteve armada e respondendo às agressões israelenses militarmente, sem se sujeitar ao servilismo. Tampouco abriu mão do seu programa de destruição do Estado de Israel e de criação de um Estado palestino que congregue árabes e judeus, assim como qualquer outra etnia, botando abaixo o projeto chauvinista de um Estado judeu que Israel vem tentando construir como parte do plano imperialista ianque de consumar sua hegemonia na região rica em recursos naturais e estratégica geopoliticamente. 

Palestinos participam de um protesto contra os planos de anexação israelense em Jericó. Foto: Reprodução Redes Sociais

Um manifestante ergue um cartaz em repúdio ao presidente ianque, Donald Trump, durante o comício. Foto: Mohamad Torokman / Reuters

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