Militares da Polícia e dos Bombeiros fazem convocação para ato bolsonarista

Militares da Polícia e dos Bombeiros fazem convocação para ato bolsonarista

Em meio às convocações para ato da extrema-direita, declarações de comandantes da PM e do CBM repercutiram entre os reacionários. Foto: Reprodução

Nas últimas semanas vieram à tona notícias de oficiais da Polícia Militar (PM) e do Corpo de Bombeiros (CBM) de diferentes estados que se manifestaram publicamente convocando militares a participarem dos atos bolsonaristas que ocorrerão no dia 7 de setembro.

O coronel da reserva do Corpo de Bombeiros Militar do Ceará, Coronel Davi Azim, chegou a gravar um vídeo convocando militares bolsonaristas a invadirem o Congresso Nacional e o Supremo Tribunal Federal (STF). “Ninguém pode ir a Brasília simplesmente para passear, balançar bandeirinhas e tão pouco ficarmos somente acampado […]. Como todos devem saber, nós teremos vários reservistas lá e R2, pessoas que têm conhecimento de como podemos fazer formações de grupamento para nos organizamos e adentrarmos ao Supremo Tribunal Federal (STF) e ao Congresso” (sic), afirmou o coronel.

Em São Paulo, o Comandante da PM Aleksander Lacerda convocou para os atos bolsonaristas por meio de suas redes sociais. As postagens continham também ataques ao STF e foram reveladas por uma reportagem do monopólio de imprensa Folha de SP.  Em uma de suas postagens sobre o ato do dia 7 de setembro, o militar afirma que : “O caldo vai esquentar”. Aleksander foi afastado de suas funções por indisciplina. O comunicado foi feito à imprensa, no dia 23 de agosto, pelo governador João Doria. 

Aleksander estava à frente do Comando de Policiamento do Interior (CPI-7), sediado na cidade de Sorocaba. Sob o comando de Aleksander estavam sete batalhões da PM de São Paulo, que contam com 5 mil policiais e abrangem 78 municípios.

Também em São Paulo, o ex-comandante da Rondas Ostensivas Tobias Aguiar (Rota), tropa especial da PM paulista, Ricardo Nascimento de Mello Araújo, gravou um vídeo com a roupa da corporação, convocando PMs veteranos a comparecerem ao ato do dia 7, na avenida Paulista.

Na gravação, postada no dia 21 de agosto, o coronel da PM disse que o presidente fascista “precisa da ajuda dos policiais” para lutar contra o comunismo e que os PMs de São Paulo precisam demonstrar que estão com Bolsonaro.

O militar relembrou, com orgulho, que a PM de São Paulo lutou no que, segundo ele, são os maiores “movimentos do país”: o massacre contra os camponeses de Canudos, a tentativa de destituir o governo provisório em 1932 e o golpe militar de 1964.

Ricardo Nascimento de Mello Araújo é atual diretor-presidente da Companhia de Entrepostos e Armazéns Gerais de São Paulo (Ceagesp), um dos maiores pontos de distribuição de alimentos do país.

Associação Nacional de PM’s responde

Como reação ao afastamento do comandante Aleksander feito pelo governador Dória, a Associação Nacional dos Militares Estaduais do Brasil (Amebrasil) lançou uma nota pública afirmando que “as polícias militares não podem ser empregadas de forma disfuncional por nenhum governador”. A entidade também afirmou que os PMs seguirão o Exército em caso de “defesa interna ou de ruptura institucional (estado de sítio ou de defesa)”. E reafirmam: “Nosso laço institucional na defesa da pátria com a força terrestre brasileira (Exército) é indissolúvel e não está sujeito ao referendo de nenhum governador, partido político ou qualquer outra ideologia que não seja a proteção da pátria, da segurança e da soberania”.

A não punição ao general da ativa Eduardo Pazuello depois que o mesmo participou de um ato que pedia intervenção militar ao lado do presidente fascista Jair Bolsonaro insuflou vários outros militares a seguirem o mesmo caminho e se manifestarem a favor do golpismo bolsonarista. 

Antes de Pazuello, outros generais também já haviam se manifestado politicamente e não foram punidos. Vale lembrar o famoso tuíte do general e ex-comandante do Exército Eduardo Villas-Bôas, na ocasião do julgamento pelo STF do Habeas Corpus de Luiz Inácio, em 2018. O atual vice-presidente ultrarreacionário, general Hamilton Mourão, quando era da ativa chegou a ser transferido depois de dar declarações afirmando que o Exército poderia intervir em caso de caos social e se o STF não desse cobertura jurídica à Operação “Lava Jato”.

Insubordinação dos quartéis a favor da extrema-direita

No mesmo dia em que afastou o ex-comandante da PM Aleksander, João Doria se reuniu com outros 24 governadores para tratar da do risco de quebra da cadeia de comando dos quartéis.

O medo dos governadores se baseia em fatos recentes de que as tropas não obedeceram ao comando dos mandatários estaduais, como na manifestação contra Bolsonaro no Recife, em Pernambuco, no dia 29 de maio, quando policiais do Batalhão de Choque desobedeceram às ordens do governador, Paulo Câmara (PSB), e atacaram os manifestantes com tiros de bala de borracha e bombas de gás lacrimogêneo deixando dois trabalhadores cegos. 

Outro evento de insubordinação promovido por PMs foi o motim que estes fizeram no Ceará, em fevereiro de 2020. Agindo como uma organização paramilitar, os PMS romperam com a lei que proíbe militares de fazer greves.

Neste caso específico, os PMs encapuzados e sem farda tomaram viaturas, desfilaram com elas e furaram os pneus das mesmas. Eles ainda ocuparam batalhões e obrigaram comerciantes a fecharem as portas do comércio, no centro da cidade de Sobral. Na ocasião, o senador Cid Gomes (PDT) chegou a ser baleado pelos PMs.

Também no começo de 2020, PMs da Paraíba, utilizaram do mesmo modus operandi e colocaram capuzes para atacar viaturas da corporação, em forma de protesto contra o governo estadual.

Vale lembrar que a postura dos PMs segue a cartilha de Bolsonaro. O atual presidente sempre se colocou como defensor dos militares de baixa patente. Bolsonaro sempre buscou explorar as contradições entres estes e os oficiais do alto escalão, como os generais, como forma de fazer penetrar, através disso, a linha da extrema-direita, oposta à defendida, em geral, pela maioria do alto oficialato (direita militar) ao longo da história recente. Foi por isso que, ainda quando era capitão do Exército, foi preso em meados dos anos de 1980 por planejar colocar bombas em quartéis, em protesto contra a transição “lenta, gradual e segura” do regime militar para o regime “democrático”, camuflando tal ato como se fosse protesto por aumentos de salários para oficiais de baixa patente, buscando o apoio dessa camada.

Novamente o presidente fascista volta a tentar insuflar suas bases fascistas dentro dos quartéis, buscando apoio para o tão almejado retorno do regime militar fascista.

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