Militares discutiram como criar ‘caos’ com galinhas verdes, diz Mauro Cid

Reunião de planejamento ocorreu na casa do general reservista e então candidato a vice-presidente, Walter Braga Netto, de acordo com o tenente-coronel delator
Mauro Cid em delação premiada. Foto: Reprodução

Militares discutiram como criar ‘caos’ com galinhas verdes, diz Mauro Cid

Reunião de planejamento ocorreu na casa do general reservista e então candidato a vice-presidente, Walter Braga Netto, de acordo com o tenente-coronel delator

Militares reacionários participaram de uma reunião na casa do general da reserva e ex-candidato a vice-presidente Walter Braga Netto para discutir como gerar um “caos” usando os galinhas verdes de extrema-direita, segundo a delação do Mauro Cid disponibilizada hoje (20/2) pelo ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), Alexandre de Moraes. A reunião ocorreu no dia 12 de novembro de 2022.

“Ministro, basicamente, os três [Braga Netto, o major Rafael de Oliveira e o tenente-coronel Ferreira Lima, que estavam na reunião] tinham a mesma ideia, que alguma ação tinha de ser feita para que o presidente quisesse assinar um documento e as Forças Armadas entendessem a necessidade de intervir. Então, a discussão estava nesse nível: o que poderia ser feito para que tivesse um caos utilizando as massas, utilizando aquela população toda que estava na rua, para que pudesse ser decretada alguma coisa”, disse o delator.

Dois dias depois da reunião, o major Oliveira ligou para Cid. Na ligação, ele pediu dinheiro para realizar operações discutidas na reunião na casa de Braga Netto.

De acordo com Cid, ele foi pedir dinheiro para Braga Netto e depois foi orientado para buscar uma resposta na sede do Partido Liberal (PL), mas não encontrou dinheiro lá. Cid retornou a Braga Netto e, dias depois, recebeu um montante de Braga Netto em uma sacola de vinho. Segundo o general, o dinheiro seria do “pessoal do agro”.

As informações reveladas por Cid confirmam as análises de AND sobre a tática da extrema-direita bolsonarista durante as agitações golpistas.

“Bolsonaro, o Fraco, saiu pela tangente para prolongar as provocações. Por um lado, não se pronunciar formalmente significaria implicar-se do ponto de vista legal; por outro, aceitar os resultados em tom derrotista seria colocar ponto final, desmoralizante, às provocações. Recheando seu pronunciamento com ataques ao TSE, só fez lançar mais lenha na fogueira da crise política e institucional que se aprofunda. Encenando não estar abatido e jogando para ganhar tempo, Bolsonaro espera que a situação se torne insustentável do ponto de vista social, quem sabe, para decretar “Garantia da Lei e da Ordem”, colocar as Forças Armadas nas ruas e seguir rechaçando o STF, buscando forçar ao erro seus oponentes e ganhar posições que lhe dê melhores condições de negociação.”, disse o Editorial semanal O ‘terceiro turno’ e as provocações golpistas, de 2 de novembro de 2022.

O AND sempre pontuou, também, que o Alto Comando das Forças Armadas (ACFA), apesar de ter buscado evitar uma ruptura institucional em 2022 pelas ordens do imperialismo norte-americano, teve papel nas agitações golpistas; tanto pela conciliação da extrema-direita como forma de disputar a base bolsonarista quanto pela defesa, há anos, e principalmente desde 2015, do papel de “Poder Moderador” das Forças Armadas e da possibilidade destas intervirem em momentos de “caos social”.

“Esse movimento anticomunista de extrema-direita quer o golpe militar agora, mas só pode cumprir o papel de joguetes na mão dos generais. O que pretende o ACFA, usando tal movimento, em primeiro lugar, é deixar claro ao novo governo que não o desafie quanto ao papel de “Poder Moderador” e, em geral, ir acidentando o terreno político e institucional, para, se preciso, criar o tal “caos social” frente ao qual anunciam desde 2015 que intervirão. Enquanto estimulam ambiguamente a bolsonarada – ou explicitamente, no caso dos generais da reserva, em especial Villas-Bôas –, o ACFA vai costurando a seguinte mensagem na opinião pública: “eis no que dá a eleição de um corrupto de esquerda, num processo em que não atestamos a lisura, cuja corte eleitoral (TSE) tomou o protagonismo no País, desequilibrando a independência dos três Poderes, lançando a sociedade brasileira no caos e desordem; por isso a sociedade pede intervenção militar e nós somos os garantidores dos poderes instituídos”. É isso o que está costurando o ACFA. Objetivamente, Bolsonaro e os “galinhas verdes” são bucha de canhão no plano do ACFA, essa é a verdade. Neste sentido, a segunda bolsonarada – do dia 8 – foi apenas um aviso.”, disse o AND, no Editorial semanal Os ‘galinhas verdes’ são fantoches na mão do Alto Comando.

Ao longo das últimas duas décadas, o jornal A Nova Democracia tem se sustentado nos leitores operários, camponeses, estudantes e na intelectualidade progressista. Assim tem mantido inalterada sua linha editorial radicalmente antagônica à imprensa reacionária e vendida aos interesses das classes dominantes e do imperialismo.
Agora, mais do que nunca, AND precisa do seu apoio. Assine o nosso Catarse, de acordo com sua possibilidade, e receba em troca recompensas e vantagens exclusivas.

Quero apoiar mensalmente!

Temas relacionados:

Matérias recentes: