Cerca de 7,7 mil militares ianques foram enviados à fronteira com o México para reprimir a entrada de imigrantes no País. O contingente envolve 4,5 mil soldados da Guarda Nacional e 2,2 mil soldados da Força-Tarefa Conjunta Norte, uma unidade do Comando Norte do Estados Unidos (EUA). O número de soldados na fronteira tende a crescer. O plano de Trump é enviar 10 mil militares das Forças Armadas nos próximos meses.
A medida é mais um passo na militarização reacionária do Estados Unidos, com a introdução das Forças Armadas em um aspecto tão cotidiano da vida política do EUA. Trata-se, ainda, de uma declaração de guerra contra as massas imigrantes, que já sofrem com a violação de direitos e tortura impostas pelos agentes federais ianques.
O Pentágono está com receio de que a participação dos militares na repressão aos imigrantes manche a imagem das Forças Armadas, segundo ex-funcionários de governos anteriores. “Os militares não querem ver fotos de seus soldados uniformizados separando famílias, arrastando mães para fora de carros, fazendo esse tipo de coisa de aplicação da lei”, disse Gil Kerlikowske, chefe do Serviço de Alfândega e Proteção de Fronteiras durante o governo Obama (2009-2017).
São vários os casos de repressão brutal dos agentes fronteiriços contra os imigrantes, e que agora os militares vão começar a replicar. Em 2023, uma denúncia do jornal Houston Chronicle revelou que patrulheiros ianques foram orientados pelos superiores a negar água para os imigrantes, mesmo em temperaturas de 38°C, e lançar os estrangeiros de volta ao rio que haviam cruzado. Em um dos casos, uma mulher grávida perdeu o bebê ao ficar presa em armadilhas de arame farpado colocadas pelos policiais dentro dos rios.
A mobilização de guerra é a materialização dos planos anti-imigração de Donald Trump. Assim que assumiu, Trump declarou um estado de emergência nacional na fronteira, o que facilita o envio de militares, amplia os poderes dos agentes federais para deter suspeitos, facilita o envio de recursos para a construção de um muro na fronteira e encerra programas que permitem a entrada de imigrantes por motivos humanitários.
Trump também emitiu uma ordem executiva para proibir a concessão de cidadania automática a filhos de imigrantes ilegais ou com vistos temporários nascidos no EUA, facilitou o processo de deportação expressa (expulsão rápida de imigrantes ilegais sem a necessidade de audiência judicial), permitiu que imigrantes sejam detidos em hospitais, igrejas e escolas e retomou um programa que faz com que os estrangeiros aguardem a análise da solicitação de asilo no México.
Uma possível consequência dessas medidas é o aumento da luta popular no EUA, com grande participação das massas imigrantes. Um protesto ocorreu no dia 21 de janeiro em Riverside contra as políticas anti-imigração de Trump. Há outros casos na história recente do EUA em que o povo se voltou contra o governo para defender os direitos dos imigrantes: em julho e agosto de 2015, elementos anônimos atiraram contra escritórios do Serviço de Imigração e Controle Alfandegário em Washington D.C., Tacoma, Aurora e Colorado.
As medidas de Trump não vão resolver a situação da imigração ilegal, uma vez que ela é consequência da crise imperialista. Nesse cenário decadente, países imperialistas como o Estados Unidos aumentam a exploração dos países oprimidos, como o México, Equador, Brasil e outros da América Latina. A condição de vida nas semicolônias piora e as massas se veem forçadas a imigrar em busca de uma falsa promessa de vida melhor.
A condição ilegal é colocada pelo próprio Estados Unidos, que nos últimos anos limitou as formas de conseguir um status legal. Um exemplo dessas medidas indiretas é o tempo de expedição do visto: para os mexicanos filhos de cidadãos americanos, o tempo de processamento do visto é de 24 anos. Assim, os vistos processados no ano de 2022 correspondem a requisições de 1998 ou antes.
Enquanto isso, a imigração continua como um negócio lucrativo para os imperialistas e outros agentes reacionários. Na fronteira do México com o EUA, há um grande esquema entre cartéis de drogas, “coiotes” (pessoas que cobram pequenas fortunas para guiar a entrada ilegal no EUA, por vezes membros de carteis ou ex-agentes de fronteira), “cônsules” (intermediários entre os imigrantes e os “coiotes”) e policiais e agentes de fronteira corruptos.