Ao contrário do que se imaginava, o atual governo, através do Ministério da Justiça, foi avisado no dia 5 de janeiro pela Força Nacional da possibilidade de “manifestações violentas” e “atentados políticos” no dia 08/01. Foi o que revelou hoje, em reportagem, o jornal monopolista Folha de SP.
Segundo a apuração do veículo, o aviso se deu por meio de um relatório de inteligência entregue pela força, e precedeu outros alertas feitos pela Agência Brasileira de Inteligência (Abin) e pela Polícia Federal à pasta encabeçada por Flávio Dino, o “implacável” crítico daqueles acontecimentos. Em nota, o ministério declarou que não sabe quais providências foram tomadas pela Diretoria de Inteligência acerca do relatório.
O fato desmente frontalmente a versão espalhada pelo governo. Em entrevista recente ao jornalista reacionário Reinaldo Azevedo, o ministro da Justiça Flávio Dino também não mencionou o relatório da Força Nacional ou qualquer um dos outros avisos que recebeu ao traçar uma “cronologia” do desenvolvimento das mobilizações golpistas até a bolsonarada do dia 8. Em vez disso, o ministro afirmou que no dia 05/01 (mesmo dia em que recebeu o relatório) conversou com o governador do DF e que a situação do distrito era “tranquila” segundo este. Por fim, Dino afirmou que só ficou sabendo da ausência da Polícia Militar do DF na Esplanada dos Ministérios no dia 08/01 às 15 horas, já no meio da tarde, quando chegou para seus compromissos do dia.
Em qual ministro da Justiça a Nação deve acreditar? No Flávio Dino que chega às raias do espetáculo para “condenar implacavelmente” o ocorrido no 8 de janeiro, ou no Flávio Dino que prevaricou (ou foi absolutamente incompetente) diante daquela ofensiva bolsonarista? Além desse “detalhe” (ter recebido avisos e nada ter feito), o que mais o ministro Dino e o presidente da república estão escondendo sobre o dia 8 de janeiro, afinal? O que pretendia o governo?
Quanto ao relatório enviado ao Ministério da Justiça, ele foi montado a partir de uma série de mensagens trocada em um grupo de Whatsapp com 237 integrantes chamado “Rifa e Pesca”, onde os membros incitavam a realização de atentados “com o uso de armas de fogo, bem como explosivos artesanais” nas manifestações que exigiam a instauração de intervenção militar. Segundo a lista de destinatários, o documento foi repassado ao diretor da Força Nacional e à Diretoria de Inteligência do Ministério da Justiça, que à época estava sendo transformada em Diretoria de Operações Integradas de Inteligência (DIOPI).
“Pelas informações levantadas, não há registros na DIOPI que permitam saber que providências foram adotadas na então Diretoria de Inteligência a partir da recepção desse relatório”, afirmou em nota o Ministério da Justiça. Para se aliviar, a pasta tentou ainda responsabilizar unicamente a Secretaria de Segurança Pública do Distrito Federal pela omissão, por ser “este o órgão competente legalmente para o policiamento ostensivo da Esplanada dos Ministérios”.
Junto a isso, o governo se esforçou também para esconder o quanto que estava ciente da possibilidade dos atentados. Apesar de os avisos da Abin e da PF fornecidos ao governo no dia 07/01 terem se tornado de conhecimento público na semana seguinte, o relatório de inteligência da Força Nacional (único relatório de inteligência produzido pelo governo sobre as mobilizações de extrema-direita) foi mantido sob sigilo até o dia 26 de setembro, quando foi revelado pelo monopólio de imprensa Folha de São Paulo.