O ministro das Comunicações de Luiz Inácio, Juscelino Filho, foi indiciado pela Polícia Federal pelos crimes de corrupção, lavagem de dinheiro e organização criminosa associados ao caso dos desvios de verbas federais na Companhia de Desenvolvimento dos Vales do São Francisco e do Parnaíba (Codevasf). O relatório final da corporação chegou ao gabinete do ministro Flávio Dino, do Supremo Tribunal Federal, no dia 11 de junho, e agora deve ser remetido à Procuradoria-Geral da República.
O caso foi montado com base em suspeitas de irregularidades em obras realizadas em Vitorino Freire, no Maranhão. A cidade é governada por Luanna Rezenda, irmã de Juscelino, e, segundo as investigações, os empreendimentos foram bancados por emendas parlamentares indicadas pelo ministro de Luiz Inácio na época em que era deputado federal. Dentre as obras estava o asfaltamento de uma estrada de terra que passada em frente a um latifúndio de Juscelino. As investigações apontam que, além de reformar a estrada que leva à própria fazenda, Juscelino usou uma empresa ligada a si para fazer as obras, a Arco. Somente dois contratos financiados com recursos indicados por Juscelino totalizam R$ 8,9 milhões.
Além da Arco, o grosso das investigações foca nas obras executadas pela empresa Construservice, que tem como sócio oculto Eduardo José Barros Costa. Durante as investigações contra a Construservice, a PF encontrou mensagens entre Juscelino e Eduardo que tratavam sobre as emendas parlamentares e as obras. Daí, Juscelino passou a ser alvo. A PF agora afirma que “resta cristalina a relação criminosa pactuada entre Juscelino Filho e Eduardo DP”.
A Codevasf é diretamente controlada pelo “centrão” desde o governo de Jair Bolsonaro, e desempenhou um papel central na execução das verbas do orçamento secreto e, posteriormente, das emendas parlamentares. Sob Luiz Inácio, a empresa continuou nas mãos do “centrão”, e mesmo após o início das investigações contra Juscelino, ele não foi demitido do cargo.
Há outros investigações que podem agravar o caso de Juscelino: no final do ano passado, um levantamento do jornal monopolista Estadão revelou que o ministro de Luiz Inácio usou do cargo no governo para conceder 31 retransmissoras de TV para um grande empresário aliado no Maranhão. As retransmissoras foram concedidas em tempo recorde.
Os episódios enfraquecem o governo e servem para abastecer a extrema-direita que segue atuante no País. Atualmente, Bolsonaro e seus herdeiros indiretos, como Tarcísio de Freitas, se articulam politicamente com o “centrão” e a direita tradicional para as próximas eleições municipais, a serem realizadas nos próximos meses, e o pleito presidencial de 2026. Na semana passada, Bolsonaro se reuniu com Arthur Lira para negociar o apoio do PL ao sucessor de Lira na Câmara em troca da tramitação de uma “série de compromissos com pautas conservadoras”. No mesmo período, Tarcísio se reuniu com figuras como Luciano Huck, o presidente bolsonarista do Banco Central, Roberto Campos Netto, e jornalistas do monopólio de imprensa Globo para discutir a situação política do País.
São todos movimentos de engrossamento das fileiras desse setor político, que também busca capitalizar sobre o grau de insatisfação popular instaurado contra o governo por conta dos parcos índices econômicos e das movimentações de Luiz Inácio como o ataque à greve dos servidores, a relutância em mover a reforma agrária ou a demarcação de TIs e a obediência firme ao arcabouço fiscal – que mira, agora, a Saúde, a Educação, e a Previdência Social.
Dessa forma, a corrupção no governo (que também deu sinais no Ministério da Saúde, de Nísia Trindade, e no histórico do ministro dos Esportes, André Fufuca), é mais uma forma que o governo de falsa esquerda enlameia a verdadeira esquerda e favorece, ao fim, a extrema-direita.