O ministro dos Esportes, André Fufuca (PP), beneficiou com verbas de sua pasta cidades geridas por aliados do próprio partido. Dentre os agraciados estão Benedito de Lira (PP), prefeito de Barra de São Miguel (AL) e pai do presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira (PP), e Teófilo Rodrigues, prefeito de Craíbas (AL) e primo do mesmo figurão da Câmara. Fufuca assumiu o ministério em setembro, diretamente indicado por Arthur Lira e após negociatas de Luiz Inácio com o centrão no parlamento.
Ao menos R$ 4 milhões foram destinados para Barra de São Miguel. A cidade tem 8 mil habitantes e já contava com um estádio municipal muito usado para futebol amador, dois ginásios cobertos e duas quadras poliesportivas descobertas, mas o Ministério dos Esportes fechou um novo acordo para construção de mais duas arenas e um complexo também voltado ao futebol amador.
Quando questionado, o Ministério afirmou ter se guiado por escolhas “técnicas”, mas os projetos financiados não detalham local, capacidade ou quais equipamentos vão fazer parte das estruturas que serão construídas.
No caso da cidade do primo de Lira, o acordo fechado totaliza R$ 1,4 milhão que será voltado para a construção de um ginásio poliesportivo.
Outros políticos, em sua maioria prefeitos e majoritariamente do PP, também foram beneficiados ou prestaram visitas a Fufuca para conseguir recursos. Somente na última semana de dezembro, 19 convênios foram fechados com políticos do PP. O partido, que reúne Fufuca, Lira, Benedito de Lira, Teófilo Rodrigues e outras figuras do centrão como Ciro Nogueira, presidente da sigla, foi o mais beneficiado em uma lista de dez partidos contemplados com convênio nos últimos dias de 2023 disponibilizada pelo jornal monopolista O Globo.
Orçamento secreto, toma-lá-dá-cá e apadrinhamento
O dinheiro público usado para os apadrinhamentos em Barra de São Miguel e Craíbas são herança direta do orçamento secreto. Antigamente, os parlamentares enviavam as verbas por meio de emendas que não destrinchavam para onde o dinheiro ia e nem o parlamentar envolvido no envio. Na época, o presidente da Câmara também influenciava diretamente quem poderia indicar os recursos.
O orçamento secreto foi abolido no final de 2022 e parte das verbas do orçamento secreto ficou sob a gestão dos ministérios, mas as práticas escusas perduraram. As ações de apadrinhamento continuam como sempre foram, de forma desavergonhada e à vista de todos. A influência da Câmara no dinheiro também segue significativa, uma vez que o centrão negocia diretamente com o governo os nomes dos ministros, na velha política do “toma-lá-dá-cá”, e os chefes das pastas nomeados após as negociatas enviam o dinheiro reservado aos ministérios para as áreas de preferência dos parlamentares no Congresso.
Mais ministros na sujeira
André Fufuca já havia sido acusado de práticas corruptas anteriormente. Uma investigação da Brasil de Fato no final do ano passado revelou que o ministro esteve envolvido, na época que era deputado, em um esquema de compra de votos. A apuração contou com evidências sólidas das práticas de Fufuca, mas o cargo do ex-deputado no governo não foi afetado.
Com Fufuca, já são pelo menos dois ministros de Luiz Inácio envolvidos em casos de corrupção e apadrinhamento. No ano passado, o ministro das Comunicações do governo, Juscelino Filho, foi acusado de desvio de verbas da Companhia de Desenvolvimento do Vale São Francisco (Codevasf) e uso do dinheiro da mesma companhia para construir uma estrada que tinha como ponto final o latifúndio de familiares.
Tudo pela conciliação
Não é à toa que Luiz Inácio está mantendo os ministros. Retirá-los fomentaria uma tensão com o centrão prejudicial à estratégia de conciliação reacionária que o governo tem optado. Desde o ano passado, a presidência escolheu o caminho de ficar entranhada com o centrão em uma relação figadal de entrega de verbas e cargos em troca da aprovação de projetos centrais ao governo, como o arcabouço fiscal e a reforma tributária.
As entregas deliberadas e o silêncio sobre as práticas condenáveis não garantiram ao governo, contudo, decisões favoráveis em temas sensíveis à sua imagem e aos interesses do povo. O marco temporal, questão crucial aos indígenas, foi aprovado, e o veto de Lula derrubado pelos parlamentares. Na Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO), os parlamentares aprovaram cortes em áreas essenciais que chegaram a R$ 310 milhões, como foi o caso das universidades federais, e aumentos vultosos em emendas parlamentares e no fundo eleitoral.
Cada vez mais, Lula tem menos a oferecer para as negociações, e o centrão e a reação no geral mais a pedir. O povo segue esquecido na disputa, até que se chega o momento dos cálculos para decidir de onde cortar verbas para garantir a farra dos de cima.