Os ministros do “centrão” no governo deixaram claro essa semana que não vão mobilizar suas bancadas para qualquer pauta de Luiz Inácio (PT), e que só estão dispostos a ganhar votos para as pautas econômicas. Isso foi reiterado por ao menos três ministros ao jornal monopolista O Globo no dia 6 de junho.
Em outras palavras, o governo entregou os ministérios ao “centrão”, mas não receberá nada em troca. As informações têm potencial de agravar a crise política no seio do governo. No dia 4 de junho, Luiz Inácio se reuniu com algumas figuras próximas para que os governistas passem a exigir dos ministros votos para os projetos do governo. Ele chegou a insistir para ser acionado diretamente em caso de negociações difíceis. Depois da reunião, o líder do governo no Senado, Jaques Wagner, falou ao Globo que o plano era sentar individualmente com cada ministro. “Cara pálida, e aí? Você está sentado aqui, quantos votos tem o teu partido quando eu preciso?”, disse ele, encenando a cobrança. A julgar pelo que disseram os ministros do “centrão”, a estratégia não vai funcionar.
O que os parlamentares do “centrão” dizem é que podem aprovar as pautas econômicas, mas não outras, como a “lei das saidinhas”, que aboliu um direito fundamental dos presos. A lógica pode ser expandida para questões como o marco temporal e outros temas que tratam de direitos elementares do povo e o governo, até aqui, não conseguiu garantir. A falta de sucesso reside, primeiro, no próprio compromisso de Luiz Inácio com a estratégia fracassada de conciliação com os diferentes setores e, em segundo, pelo caminho escolhido de contar mais com o “centrão” e a direita liberal (comprados com cargos e emendas parlamentares) do que com o povo para tocar a agenda política.
Pautas como o “marco temporal”, investimentos em áreas essenciais como Educação e Saúde, reajustes salariais para servidores, políticas de regularização das terras e revogação das contrarreformas de governos anteriores podem ser todas encaminhadas com apoio da mobilização popular nas ruas, mas o governo até agora se recusou a adotar a estratégia.
Dessa forma, há poucas saídas para Luiz Inácio. Sem contar com as massas, são os parlamentares que restam. Os ministros não vão ajudar. O Congresso está tomado pela extrema-direita. Uma última opção, ir direto aos presidentes da Câmara e do Senado para negociar que pautas como a “lei das saidinhas” não sejam votadas, não funcionaria, uma vez que Arthur Lira (PP-AL) e Rodrigo Pacheco (PSD-MG) já estão enlameados em acordo com a extrema-direita pelas negociatas predecessoras às eleições da presidência das duas Casas.