Os Complexos do Chapadão e da Pedreira foram cercados e invadidos por mais de 5,5 mil militares das Forças Armadas, Polícias Militar e Civil, no dia 28 de junho. A ação de guerra iniciou-se no início da manhã e concluiu-se no fim da tarde, com um saldo de um morador assassinado, dois feridos, 12 encarcerados e uma série de abusos relatados.
O morador assassinado não foi identificado pelo Comando Militar do Leste ou pelo Comando Conjunto, sendo tratado apenas como “suspeito”. As “autoridades” também não deram nenhum detalhe sequer das circunstâncias do assassinado. O rapaz foi morto no Morro do Tiradentes, em Anchieta, segundo relatos de moradores à equipe de AND.
Além disso, uma série de abusos e arbitrariedades foram cometidos contra a massa de moradores. Os relatos foram veiculados pelos grupos em aplicativos de mensagens e enviados para a Redação de AND.
“Uma viatura do Exército passou por mim e pelas meninas e jogou spray de pimenta na gente. Eu fui atrás do tenente e ele disse que eu devia ter pego o número da viatura. Mas como, se a gente estava coçando o olho? Estou com o gosto de pimenta na boca até agora”, protestou uma moradora do Complexo do Chapadão, em áudio que chegou até a reportagem de AND, em condição de anonimato. “Eles esperam escurecer para fazer arruaça aqui dentro. É por isso que o Complexo do Alemão expulsou eles de lá e vai acontecer aqui também!”, exclamou.
Um dia antes, à noite, na Pedreira, uma moradora teve sua casa invadida por policiais militares do 41º Batalhão da PM. A moradora – que não quis se identificar por medo de represálias da PM – pegou os policiais em flagrante, dentro de sua casa, com 550 reais que ela guardava para pagar o aluguel da pequena casa onde mora e com seu celular, que havia sido esquecido. Ela foi presa acusada de desacato.
“Eles [PMs] arrombaram a minha porta e queriam roubar meu celular e 550 reais do meu aluguel. Eu cai para cima deles. Me lasquei todinha, mas a mim ninguém rouba.”, expôs em um aplicativo de mensagens.
Segundo o porta-voz do Comando Conjunto, coronel Carlos Cinelli, essa foi a maior operação da intervenção militar. Os militares invadiram os Complexos com tanques, veículos blindados, aeronaves blindadas, além de farto armamento e aparato de guerra. Acampamentos militares já estão montados em toda a região. Os militares jogaram, de helicópteros, mais de 10 mil panfletos incentivando a delação e a alcaguetagem. Por conta da guerra, crianças e adolescentes estão sem aulas ao redor dos Complexos do Chapadão e da Pedreira.
O Complexo do Chapadão é um dos pontos de maior conflagração do Rio de Janeiro, concentrando em si as mais bárbaras operações de guerra das forças de repressão e um brutal cotidiano de opressão e violência exercidos através do 41º Batalhão da Polícia Militar – um dos mais genocidas da cidade. O Complexo abarca os bairros de Barros Filho, Costa Barros, Pavuna, Guadalupe, Ricardo de Albuquerque e Anchieta.
Foto de Fernando Frazão