Motoristas e entregadores por aplicativo fazem paralisação nacional

Motoristas e entregadores por aplicativo fazem paralisação nacional

Motoristas de Aplicativo protestam na avenida Presidente Vargas, no centro do Rio de Janeiro. Foto: Carlos Brito

Motoristas e entregadores por aplicativo realizaram atos em dezenas de cidades no dia 29 de março, durante um ato nacional da categoria. Os trabalhadores se uniram uma vez mais para lutar contra a exploração feita pelas empresas donas dos aplicativos e para exigir direitos trabalhistas e melhores salários em meio à crise econômica e carestia geral de alimentos e produtos de primeira necessidade. Eles também protestaram contra o aumento nos preços dos combustíveis.

Os manifestantes tomaram as ruas das principais capitais do País, bem como de cidades do interior. Também paralisaram as corridas e desligaram os aplicativos para que todo o serviço de entregas e transporte de passageiros fosse paralisado. Atos de rua foram registrados no Rio de Janeiro, São Paulo, Belo Horizonte, Porto Alegre, Curitiba, Recife, Salvador e etc.

As principais reivindicações dos trabalhadores são: reajuste salarial e ganho mínimo de R$ 10 por corrida, reajuste do valor que é pago por quilômetro percorrido, fixação da porcentagem que a Uber recebe por corrida em 20%, pagamento do tempo em corrida a R$ 0,20 por minuto, pagamento do deslocamento até o passageiro, visualização do local de destino com informações mais específicas, contato direto com o suporte por telefone, bolsões em aeroportos, inclusive em áreas de embarque e desembarque, volta do multiplicador antigo da Uber, melhoria nos incentivos para motoristas com melhor pontuação, câmeras em todos os carros de motoristas mulheres, fim do preço fixo, detalhamento de valores de todas as categorias de corridas e etc.

A greve mira, principalmente, as grandes plataformas de transporte e delivery, como Uber, 99, iFood e Rappi.

Contra o aumento nos preços dos combustíveis!

Os entregadores e motoristas protestaram também contra os sucessivos aumentos de preços dos combustíveis feitos pela Petrobrás. 

O presidente do Sindicato dos Prestadores de Serviços Por Meio de Apps e Software para Dispositivos Eletrônicos do Rio de Janeiro e Região Metropolitana (SindMobi), Luiz Corrêa, afirmou que: “A categoria está sendo sufocada pelo aumento dos combustíveis. Para se ter uma ideia, uma corrida mínima hoje custa R$ 6,50, enquanto o preço do GNV varia entre R$ 5 e R$ 6. Se não houver mudança na política de pagamentos das empresas de aplicativos, o sistema vai colapsar”, contou Corrêa. O dirigente sindical relata ainda que pelo menos 35% dos trabalhadores do setor abandonaram o trabalho por aumentos dos preços dos combustíveis.

Uma pesquisa vinculada à Universidade de Oxford, da Inglaterra, divulgada no mês de março, revelou que motoristas e entregadores por aplicativo no Brasil recebem menos do que um salário mínimo: R$ 1.212, por mês ou R$ 5,50 por hora.

Os trabalhadores prometem manter a mobilização. Já está marcada mais uma paralisação para o dia 1º de abril, em meio ao evento denominado “Apagão dos apps”, no qual os trabalhadores desligarão seus aplicativos e não receberão solicitações de entregas.

Superexploração

Os trabalhadores por aplicativo estão submetidos a uma exploração brutal. Essa situação é mascarada, em parte, pelo argumento amplamente divulgado por setores reacionários de que nos serviços prestados por aplicativos o trabalhador é o seu próprio patrão. Tal teoria absurda se baseia no fato do trabalhador ser (em alguns casos) o dono do carro, da motocicleta ou da bicicleta que utiliza para realizar o trabalho e de que, portanto, o motorista ou entregador trabalha a hora que quer, podendo dessa forma fazer o seu próprio horário e sendo “livre”.

Essa fajuta glamourização esconde o fato de que essas pessoas trabalham sem direito trabalhista algum arcando com os próprios custos dos instrumentos de produção (alguns dos quais nem são propriamente donas) e sendo abandonadas à própria sorte, reduzidos a verdadeiros escravos dos aplicativos que, dessa forma, lucram milhões em cima do trabalho alheio enquanto os trabalhadores recebem uma quantia mísera.

No programa de áudio Guia para a Ação: As relações de produção dos trabalhadores de aplicativo, o diretor provisório do jornal A Nova Democracia, Victor Bellizia, falou sobre as relações de trabalho que os motoristas e entregadores por aplicativo mantém com as empresas donas dos softwares, utilizando como base conceitos definidos pela teoria marxista sobre as relações de produção. 

Ouça a entrevista completa abaixo:

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