MS: Acampamento Terra Prometida é despejado em ação truculenta e ilegal

A ocupação realizada pela Frente Camponesa de Luta, contava com mais de cem famílias camponesas. Mais de 100 agentes da PM do MS foram mobilizados de Campo Grande para realizar o despejo sem que houvesse ordem de reintegração.
Políciais militares preparam despejo de famílias no MS. Foto: reprodução

MS: Acampamento Terra Prometida é despejado em ação truculenta e ilegal

A ocupação realizada pela Frente Camponesa de Luta, contava com mais de cem famílias camponesas. Mais de 100 agentes da PM do MS foram mobilizados de Campo Grande para realizar o despejo sem que houvesse ordem de reintegração.

Em ação truculenta e ilegal, policiais militares despejaram mais de cem famílias camponesas que ocupavam as terras da Usina São Fernando em Dourados, Mato Grosso do Sul, como denuncía a Frente Camponesa de Luta (FCL), responsável pela tomada.

Usina São Fernando e família Bumlai acumulam dívidas e denúncias

Segundo manifesto divulgado pela Frente, as terras da Usina São Fernando, propriedade de José Carlos Bumlai, acumulam bilhões em dívidas com a União, credores e com seus antigos trabalhadores que levaram um calote de 53 milhões quando a usina encerrou sua operação. Ainda, denuncía a FCL, parte da usina se encontra em terras Guarani Kaiowá. A família Bumlai acumula denúncias e condenações por corrupção há anos. José Carlos Bumlai chegou mesmo a ser preso na Operação Lava Jato por corrupção passiva e gestão fraudulenta de instituição financeira, e mantém ligações estreitas com o governo federal e com o presidente da República, Luís Inácio, que até mesmo visitou as terras da Usina.

A Terra Prometida

Mais de cem famílias tomaram a terra com apoio de estudantes e trabalhadores no dia 18 de janeiro. Lá passaram a erguer barracos e organizar a vida do acampamento. É possível observar nos vídeos divulgados pela organização, forte presença de mulheres e crianças no local, inclusive de indígenas Guarani Kaiowá. Os camponeses batizaram seu acampamento de Terra Prometida, fazendo referência à promessa da FCL de que aquelas terras pertenceriam ao povo através da luta popular.

Dezenas de estudantes de universidades do MS, São Paulo e Paraná, estavam presentes demonstrando sua solidariedade à luta. O DCE da Universidade Federal da Grande Dourados (UFGD), DCE da Universidade Estadual de Maringá (UEM) e centros acadêmicos da USP, UFGD e UEM denunciaram a ação da polícia.

Pela manhã do dia 19 de janeiro, enquanto se preparavam para iniciar os trabalhos do dia, os camponeses foram surpreendidos por um forte ataque da polícia do MS, que mobilizou um efetivo de mais de 100 agentes, vindos de Campo Grande, para despejar as famílias. Em vídeos divulgados pela FCL é possível identificar helicópteros, dois caminhões e dezenas de soldados da tropa de choque, além de pistoleiros que foram empregados na operação.

Policiais atacam camponeses em acampamento Terra Prometida (MS).
Policiais atacam camponeses em acampamento Terra Prometida (MS).

Os camponeses denunciaram que, além da truculência da polícia, que atirou bombas de efeito moral contra mulheres e crianças, toda a operação foi ilegal, uma vez que não havia ordem de reintegração expedida. Os policiais envolvidos também não estavam identificados e homens com roupas civis e sem distintivo alegando serem agentes da polícia civil. O advogado da FCL  também não foi permitido entrar no local para acompanhar o despejo.

Apelo à solidariedade

A Frente Camponesa de Luta, em comunicado seguido do despejo, clamou pela solidariedade de todos aqueles democratas apoiadores da luta pela terra, para que contribuam com a construção de um movimento camponês combativo no MS e denunciem a ação violenta e ilegal das tropas da polícia.

Assim como eventos recentes no caso do assassinato de lideranças camponesas do MST em São Paulo e as inúmeras tentativas de despejo contra camponeses em Jaqueira (PE), noticiados por AND, este ataque da reação contra as famílias que estavam em busca apenas de um pedaço de terra para viver com dignidade comprova que a luta pela terra está entrando em novo patamar de enfrentamento.

Ao longo das últimas duas décadas, o jornal A Nova Democracia tem se sustentado nos leitores operários, camponeses, estudantes e na intelectualidade progressista. Assim tem mantido inalterada sua linha editorial radicalmente antagônica à imprensa reacionária e vendida aos interesses das classes dominantes e do imperialismo.
Agora, mais do que nunca, AND precisa do seu apoio. Assine o nosso Catarse, de acordo com sua possibilidade, e receba em troca recompensas e vantagens exclusivas.

Quero apoiar mensalmente!

Temas relacionados:

Matérias recentes: