No dia 18 de agosto, o cacique e proeminente liderança indígena Guarani-Kaiowá Valdir Martins foi alvo de uma emboscada da Polícia Civil e Militar, em uma prisão política, no município de Naviraí, Mato Grosso do Sul (MS), estado com uma das maiores concentrações de terra do país. A comunidade liderada por Valdir luta por terra há décadas na região, e no ano de 2022 realizaram uma tomada de terra no latifúndio Tejuí. Desde então, os indígenas vêm resistindo a sucessivas tentativas de despejo e rondas das polícias.
Valdir foi preso enquanto buscavam ramas de mandioca junto a funcionários da Fundação Nacional dos Povos Indígenas (Funai). Durante a coleta, o cacique foi abordado por militares da Força Tática da PM do município de Naviraí. Os militares apresentaram um mandado de prisão expedido no ano passado acerca de um crime supostamente cometido em 2009 e levaram Valdir preso. Segundo o cacique, ele já comprovou que o crime nunca ocorreu.
Atualmente, outros 13 indígenas se encontram presos no estado em prisões políticas contra a luta pela terra. Três dessas prisões ocorreram em Rio Brilhante e 10 em Dourados. Em Dourados, os dez indígenas foram presos pela tropa de Choque da PM na retomada de uma terra que seria utilizada por mega-imobiliárias para a construção de um condomínio de luxo.
As prisões ocorrem sob ordens do governador do MS, o latifundiário Eduardo Riedel (PSB), em conluio com latifundiários da região, na tentativa de refrear a luta pela terra no estado.
Indígenas da Retomada Curupi resistem com combatividade ao latifúndio
A Retomada Curupi, da qual Valdir é cacique, existe desde julho de 2022, quando dezenas de indígenas ocuparam o latifúndio onde hoje residem e resistiram à tentativa de expulsão imediata pela Polícia Militar (PM) com arcos, flechas e barricadas feitas de máquinas agrícolas incendiadas..
Desde então, os indígenas têm resistido continuamente contra as investidas do latifúndio. Recentemente, viaturas da Polícia Federal (PF) que rondavam as terras dos indígenas tiveram os pneus furados por armadilhas. Em ação contraofensiva, os indígenas também ocuparam a sede do latifúndio e expulsaram os funcionários da fazenda.
No último dia 1° de junho, a mãe de Valdir, Nhandesy Verônica Veron, recusou-se a receber uma intimação de retirada do latifúndio entregue por um oficial de justiça, acompanhado da PF e a Força de Segurança Nacional.
Em um vídeo de denúncia contra a prisão de seu filho, a indígena relatou: “Estamos aqui nós mulheres sozinhas, sozinhas porque já mataram todos os meus irmãos, mataram meus sobrinhos e agora hoje dia 18 de agosto de 2023, os delegados da polícia civil de Caarapó, Juti e Naviraí (municípios do Mato Grosso do Sul), prenderam meu filho”.
Ela denunciou, também, as ações do latifúndio: “Latifundiários tem nos perseguido dia e noite para nos exterminar, tentaram até nos enterrar vivos com ordem judicial, e não conseguiram, e agora venho pedir apoio, porque amanhã pode ser a minha vez de ser presa e ser morta”.
Governo do estado promove monitoramento e prisões contra indígenas
Além das incursões e tentativas de despejo, os indígenas em luta pela terra têm sofrido monitoramento da PM. Os militares montaram uma base de monitoramento da Retomada, e, segundo denúncias, realizam disparos a esmo durante a noite, na tentativa de aterrorizar os indígenas. Além disso, as denúncias dão conta que os policiais realizam a proteção dos grupos de pistoleiros do latifúndio que atuam sob “empresas de segurança” de fachada.