No dia 17 de outubro, estudantes democráticos de diversos cursos da Universidade Federal da Grande Dourados (UFGD), organizados pelo Diretório Central de Estudantes (DCE), realizaram um ato de solidariedade e apoio à luta indígena na retomada Avae’te. O território Guarani-Kaiowá sofreu quatro ataques por pistoleiros e forças policiais a mando do latifúndio somente nos últimos dois meses, já noticiado repetidas vezes nesta tribuna.
Segundo o próprio DCE-UFGD, a campanha de solidariedade aos Guarani-Kaiowá da retomada Avae’te foi iniciada no dia 4 de setembro, logo após aos primeiros ataques no dia 14 de agosto, com uma campanha de arrecadação de roupas, alimentos, água e produtos de higiene. A ação, descrita em uma nota publicada na página do Instagram do DCE, foi “em solidariedade a sua [dos Guarani-Kaiowá] luta” para “denunciar esses crimes [do latifúndio] e defender o direito à terra dos povos originários”. Na nota, os estudantes apontaram ainda que: “é preciso derrubar os muros da universidade para servir aos interesses do povo trabalhador”.
‘Derrubar os muros da universidade’
Depois de mais de um mês de arrecadação, os cerca de 30 estudantes visitaram a retomada para prestar sua solidariedade presencialmente aos Guarani-Kaiowá. Durante o encontro, os estudantes saudaram e destacaram a importância da luta pela terra na região e ressaltaram como a luta dos Guarani-Kaiowá servia de inspiração para a luta estudantil.
No curso da visita, vários estudantes enfatizaram como a visita serviu para de fato “derrubar os muros” da universidade. Eles pontuaram que a universidade, com currículos engessados, muitas vezes não se preocupa em promover atividades desse tipo. Um estudante indígena, que mora na Reserva Indígena de Dourados, a poucos metros da retomada, destacou que a ação do DCE era um fato histórico, pois nunca havia presenciado uma ação de solidariedade dessa maneira.
Durante a visita, os indígenas voltaram a denunciar os crimes do latifúndio e deixaram os estudantes a par dos ataques contra a Retomada, localizada a pouco mais de 10km da universidade.
Além dos alunos, estiveram presentes professores, um advogado e um representante do Comitê de Apoio ao AND de Dourados. Esse último saudou a luta indígena e contou a cobertura que o comitê vinha realizando dos ataques. Um representante da Associação Brasileira de Advogados do Povo (Abrapo) e um membro do Comitê de Apoio à Luta dos Povos Indígenas (Calpi) também se fizeram presentes e externalizaram suas solidariedades.
Danças tradicionais e palavras de ordem
A visita seguiu em alto espírito até o final. Conjuntamente com os vários guachire (dança ritualística Guarani-Kaiowá) realizados durante a ação, os presentes por diversas vezes gritaram palavras de ordem como Viva a luta dos Guarani-Kaiowá!, Viva a retomada Avae’te e Abaixo o latifúndio! Viva as retomadas!. Além das palavras de ordem, os visitantes e indígenas também cantaram o hino da luta combativa pela terra, Conquistar a Terra.
O encontro, embora encerrado com a entrega das doações, não tinha, segundo o DCE, o objetivo de ser assistencialista, mas sim de ser um “ato de solidariedade com a luta indígena”. Para reforçar o caráter de solidariedade, os estudantes leram um manifesto em que denunciaram o genocídio Guarani-Kaiowá, conclamaram a solidariedade dos setores democráticos da sociedade douradense e encerraram com o compromisso de que “os Guarani-Kaiowá não estão sozinhos e todos os crimes serão denunciados”.