MS: Força Nacional prende indígena e humilha sua família

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Velório de Clodiodi Aquileu Rodrigues de Souza. Foto: Cimi, 2016.

Agentes da Força Nacional de Segurança (FNS) invadiram violentamente a reserva Guarani e Kaiowá Tey’i Kue, em Caarapó, Mato Grosso do Sul, no dia 13 de dezembro. Uma das lideranças indígenas denunciou que os agentes lançaram bombas de gás lacrimogêneo e spray de pimenta, e prenderam um indígena. A denúncia foi veiculada pelo Conselho Indigenista Missionário (Cimi).
O indígena preso, Leonardo e Souza, de 57 anos, foi levado para a sede da Polícia Federal, em Dourados, e foi acusado de “tortura de policiais, cárece privado qualificado, roubo qualificado, sequestro, dano qualificado e corrupção de menores”. Leonardo, que segundo lideranças locais pouco se envolve com os grandes tumultos da comunidade, é pai Clodiodi Aquileu Rodrigues de Souza, guarani assassinado com dois tiros durante o chamado Massacre de Caarapó.

Durante a operação, os agentes da FNS ameaçaram “destruir o resto dessa família” (fazendo referência ao assassinato de Clodiodi), relatou o guarani Kunumi, que fala denunciou também agressões a um de seus irmãos, que é deficiente. Segundo ele, os policiais apontaram diversas vezes a arma para o rosto de sua mãe. Ao saírem com o seu pai, Leonardo, preso, os policiais ainda atropelariam o cachorro da família.

“Essa acusação contra ele é injusta. Ele é morador antigo dali, nunca pensou em fazer mal para ninguém. Só que resolveram colocar no nome dele. Meu irmão foi baleado na retomada e o fazendeiro está solto. Foi preso, mas logo saiu. Agora, parece que acusam meu pai de ter feito algo mais grave do que terem matado meu irmão.”, disse Kunumi, indignado, ao Cimi.

Ele refere-se à prisão dos latifundiários Dionei Guedin, Eduardo Yoshio Tomonaga, Jesus Camacho, Virgilio Mettifogo e Nelson Buainain, brevemente detidos em agosto de 2016 numa ação conjunta entre a força-tarefa Guarani e o Ministério Público Federal, sob a acusação de tramarem o ataque que resultou no Massacre de Caarapó, ocorrido em 14 de junho de 2016. Todos eles agora respondem em liberdade.

As ações judiciais contra os latifúndiarios em 2016 revelaram o verdadeiro arsenal de guerra na posse desta classe. “Foram encontrados dois revólveres e um rifle calibres 38, uma pistola .380 e sete espingardas calibres 16, 22, 28, 32, 36 e 38. Dos 310 cartuchos recolhidos, a maioria são de calibre 22 (91 unidades), 380 (67) e 38 (54). Foram apreendidos carregadores sem a respectiva arma e que armamentos registrados em nome dos fazendeiros presos não foram localizados.”, relata nota do Cimi, de junho de 2017, onde consta que o Ministério Público Federal identificou nas munições encontradas padrões semelhantes às das utilizadas no local do massacre.

Como parte de um movimento de revolta contra a ação criminosa do latifúndio, o povo Guarani Kaiowá da região iria realizar uma série de ocupações contra o latifúndio, incluindo a retomada de Toro Paso, local onde ocorreu o massacre e onde tombou Clodiodi, vindo agora a chamar-se o local de Kunumi Poty Verá, nome indígena do mesmo.

Ocorrido em 14 de junho de 2016, o Massacre de Caarapó envolveu, segundo o Cimi, um grupo paramilitar uniformizado de pistoleiros, que atacou uma ocupação guarani onde Clodiodi estava presente. Os paramilitares utilizaram retroescavadeiras para destruir algumas o acampamento indigena levantado dois dias antes e incendiaram tudo que podiam. Além de Clodiodi, outros 5 guaranis foram feridos gravemente durante o ataque, inclusive Kunumi Kusua Vera, um de seus irmãos, baleado no tórax.


Leonardo de Souza, 57 anos, preso pela FNS no dia 13 de dezembro.

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