MS: Guarani Kaiowá é perseguido pelo velho Estado

MS: Guarani Kaiowá é perseguido pelo velho Estado

Barracos destruídos por seguranças privados na retomada Nhu Vera. Crédito da foto: povo Guarani Kaiowá

Um indígena do povo Guarani Kaiowá, chamado Geraldo Vera Guarani Kaiowá, de 55 anos, teve a prisão preventiva decretada durante audiência de custódia realizada no dia 5 de março, em Dourados, estado do Mato Grosso do Sul.

A criminalização e perseguição contra Geraldo ocorre após um covarde ataque de pistoleiros legalizados contra as terras indígenas retomadas Nhu Vera, área limítrofe à reserva indígena de Dourados. Ataque este que foi denunciado em matéria publicada pelo AND em 6 de janeiro deste ano pela jornalista Rosana Bond.

Durante a invasão dos pistoleiros à terra indígena, ocorrido no dia 03 de janeiro,  o “segurança privado” Wagner André Carvalho foi ferido e submetido à cirurgia, tendo alta no mesmo dia. 

A partir de então, uma ação foi movida contra o Guarani Kaiowá Geraldo Vega tentando incriminá-lo pelo incidente.

O indígena nega veementemente a acusação de que tenha sido ele o autor do disparo. E, apesar da  “pouca plausibilidade do flagrante”, conforme atesta a Defensoria Pública da União (DPU), Geraldo teve a prisão preventiva decretada. A DPU também afirmou que irá recorrer da decisão, e entrará com pedido de Habeas Corpus.

Outra denúncia grave que mostra o caráter arbitrário da decisão de prisão é a de que, antes de ser encaminhado à carceragem da Polícia Federal pela Força Nacional de Segurança (FNS), Geraldo foi sequestrado e torturado por cinco homens encapuzados e armados que por volta das 11 horas do dia 4 de fevereiro. 

No momento do sequestro, Geraldo estava em seu barraco com a esposa e foi levado para o contêiner que serve de base aos “seguranças privados” contratados por fazendeiros da região, segundo denúncias de um indígena em condição de anonimato.

“- Eram cerca de cinco. Uns estavam com a farda e outros não. Eles pegaram o Geraldo e levaram pro contêiner que eles ficam. Geraldo se machucou, levou pancada. Vieram de caminhonete. Como eu tava com o Geraldo e a mulher dele, mandaram eu virar de costas e correr, isso na ponta do revólver. Socaram a arma na minha cara e deram uma porrada na mulher do Geraldo, que hoje fez exame de corpo de delito”, relatou o homem.

O Guarani Kaiowá contou ainda que, depois do sequestro, buscou denunciar o crime o mais rápido possível para as lideranças e parentes. Contou ainda, que a FNS foi buscar Geraldo Vera no contêiner, conduzindo-o à sede da Polícia Federal.

– A dona (mulher do Geraldo) fala que eram cinco homens. Uns estavam com uniformes da empresa de segurança, a farda, outros não. Inclusive tomaram o celular enquanto judiavam dele. É crime bárbaro que tão fazendo. Fiquei assustado, meteram o revólver na minha cara. Corri para chamar os parentes e ligar pras lideranças, afirmou o homem.

‘Segurança privada’ do latifúndio, a pistolagem legalizada

Segundo informações do Conselho Indigenista Missionário (CMI), Wagner André era contratado da “empresa de segurança” Mirage.

O uso de empresas de “segurança privadas” em conflitos com indígenas no Mato Grosso do Sul não é uma novidade. Em 2018, após denúncias, a “empresa de segurança” Gaspem foi obrigada a fechar as portas, além de ter os bens bloqueados e ser condenada a pagar multa por danos morais, pelo envolvimento com ataques a indígenas do Mato Grosso do Sul entre 2009 e 2011, culminando no assassinatos de lideranças.

O Ataque

O território de retomada Nhu Verá, dos guarani kaiowá, conforme já noticiado por AND, passou por ataques no início do ano, entre os dias 2 e 3 de janeiro, quando cerca de 15 pistoleiros junto a um trator modificado (conhecido como “caveirão”) e também o Departamento de Operações de Fronteira (DOF) abriram fogo e lançaram bombas contra os indígenas. Vários Guarani Kaiowá ficaram feridos durante esse ataque, um dos quais ficou cego após ser atingido por um tiro de bala de borracha e uma criança de 12 anos que perdeu o dedo da mão esquerda com uma granada lançada pela polícia.

Modesto Fernandes Guarani Kaiowá perdeu a visão do olho esquerdo em ataque promovido por seguranças privados: ninguém foi punido. Crédito da foto: povo Guarani Kaiowá

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