Foto: Comitê de Apoio ao AND – Dourados (MS)
Estudantes universitários indígenas moradores das aldeias Bororó e Jaguapiru bloquearam, por três dias, a rodovia MS-156, no trecho que liga os municípios de Dourados e Itaporã. A motivação do protesto, que iniciou-se no dia 1º de outubro, foi a falta de ônibus para transporte de universitários residentes na Reserva Indígena.
Os estudantes indígenas relataram que estavam há mais de 30 dias sem o ônibus da prefeitura de Dourados que fazia o transporte dos 150 universitários da Reserva até as universidades da cidade. O transporte havia sido cancelado porque o ônibus da prefeitura estava em manutenção e a prefeitura não se moveu para disponibilizar outro. Além disso, no mesmo dia que o bloqueio teve início, a prefeitura comunicou ter suspendido a licitação de R$ 3,6 milhões, com a qual pretendia contratar empresa justamente para manutenção do veículo.
“Já passou um mês, estamos praticamente reprovados por falta. Estamos sendo muito prejudicados por isso, tentamos o diálogo, mas não obtivemos resposta. O bloqueio vai permanecer até que a prefeitura traga uma resposta concreta para nós, não queremos mais blá-blá-blá”, protestou uma estudante.
Foto: Comitê de Apoio ao AND – Dourados (MS)
Eles também comentam que a maioria dos estudantes não tinha condições de ir para as aulas sem o transporte da prefeitura, e apontam que a Lei Ordinária n° 3870/2015, de 3 de fevereiro de 2015, “autoriza o município de Dourados a efetuar o transporte de estudantes da zona rural e dos distritos, matriculados no ensino superior e escolas técnicas”.
Segundo os estudantes, a prefeita chegou a falar que eles “não iriam aguentar” e se recusou a ir até o local ou dar algum posicionamento concreto. Dessa forma, estudantes e apoiadores do ato se organizam para ficar no local por tempo indeterminado.
Os estudantes também relatam que enfrentam a campanha difamatória do monopólio de imprensa local, que tentou culpabilizá-los pela morte de uma criança, pois a ambulância não teria conseguido passar pelo bloqueio. Tal versão é desmentida pelos indígenas que apontam que estavam deixando passar todas as ambulâncias e pessoas que precisavam ser atendidas. Além disso, havia outras rotas que poderiam ter sido usadas.
Foto: Comitê de Apoio ao AND – Dourados (MS)
Juliene Kaiowá, participante do protesto, afirmou que, mesmo diante do calor intenso e com sol forte, o ato não perdeu força. “Estamos aqui desde cedo lutando pelo transporte e estamos tendo o apoio da comunidade. Ficaremos aqui, até que ocorra um posicionamento mesmo com o sol e com as dificuldades”, destacou.
Após três dias de exitosos protestos, os indígenas lograram uma vitória. No dia 3 de outubro, após quase 60 horas ininterruptas de bloqueio, a prefeitura de Itaporã (município vizinho que também estava sendo afetado) declarou que iria ceder um ônibus para ser utilizado por um mês até que a situação se normalize. Em reunião com a prefeitura de Dourados no dia seguinte, os manifestantes conseguiram que a gerência municipal se comprometesse a realizar a manutenção do ônibus nos próximos dias.
Moradores bloqueiam rodovia por segurança no trânsito
No mesmo dia 3 de outubro, ao mesmo tempo em que acontecia o bloqueio dos estudantes indígenas na área norte de Dourados, do outro lado da rodovia, na parte sul, os moradores da região dos bairros Guaicurus, Dioclecio Artuzi e Harrison de Figueiredo realizaram, desde às 4h da manhã, um bloqueio com pneus, impedindo o acesso ao complexo industrial localizado na região sul.
Foto: Comitê de Apoio ao AND – Dourados (MS)
O protesto acontece em razão dos acidentes com mortes que vêm acontecendo, sendo que só este ano já foram registradas dezenas de mortes nessa parte da rodovia. O último acidente foi na noite de um domingo, 29 de setembro, quando Fábio Ramires, de 64 anos, morador da região, morreu atropelado.
Entre as reivindicações, os manifestantes exigiram mais sinalizações, iluminação e a duplicação da via, prometida pelo governo do estado. O bloqueio seguiu até a noite do dia 3 e, segundo os moradores, iria continuar no dia seguinte. Porém, eles liberaram a pista depois da Agência Estadual de Empreendimentos (Agesul) publicar no Diário Oficial do estado a licitação para a contratação do serviço para adequação da capacidade de tráfego, segurança e drenagem da rodovia.
Foto: Comitê de Apoio ao AND – Dourados (MS)