No dia 27 de julho, uma missão de solidariedade composta por estudantes, professores, entidades e apoiadores esteve presente na retomada Guarani-Kaiowá Taquara, localizada no município de Juti, Mato Grosso do Sul. O Comitê de Apoio ao Jornal A Nova Democracia de Dourados também participou da missão.
A retomada Taquara é uma das cinco retomadas que houveram no último mês no estado. Ela integra uma onda de retomadas que ocorreu no Mato Grosso do Sul e também em outros locais do país recentemente como resposta à morosidade nas demarcações de terras indígenas, algo prometido, mas não cumprido pelo governo federal de Luiz Inácio.
Além da retomada Taquara, no MS também ocorreram três retomadas na terra indígena Panambi-Lagoa Rica em Douradina e o avanço da retomada Kunumi em Caarapó, e que, assim como as demais, têm sido alvo do terrorismo causado pelos pistoleiros contratados pelos latifundiários da região, intermediados pelo BOP e a Força Nacional.
As terras onde se encontra o conflito são comprovadamente terras indígenas onde há também um cemitério ancestral da comunidade, que havia sido conquistado pelos Guarani-Kaiowá antes de terem que recuar devido às investidas dos pistoleiros que a mando dos latifundiários tentam manter a comunidade afastada daquele território, os impedindo até mesmo de rezar pelas almas enterradas ali.
Os indígenas denunciam que a Funai, em conjunto com a Força Nacional, pressionam as famílias que estão na nova retomada para que se retirem dali – apesar da comprovação da existência desse cemitério e de que aquelas terras pertencem aos povos originários. É mais um episódio em que instituições do velho Estado e forças de repressão atuam a favor dos latifundiários sob o manto de “mediar o conflito”. Menos de 10 dias após a Missão de Solidariedade ocorrer, no dia 5 de agosto, um brutal ataque de pistoleiros deixou dezenas de feridos em Douradina, também no estado do Mato Grosso do Sul. Além disso, três indígenas ficaram desaparecidos.
Em entrevista, uma Nhãndesy (rezadeira da comunidade) disse com pesar:
— Minha família tá toda aqui. Minha tia, minha avó, minha mãe, meu pai… Por isso que eu não quero deixar essa terra não. Por isso que eu vou lutar até não querer mais. Ali também tem meu filho, que enterramos lá, mas eles não deixam ir visitar ele. A gente vai ali, eles atacam a gente e mandam a gente voltar.
Além das investidas dos pistoleiros, a comunidade ainda lida com o assédio sofrido contra as crianças e mulheres presentes e contam que os drones são usados não só para cercar a comunidade, mas também para seguir as crianças e mulheres quando essas descem até o rio próximo dali para tomar banho, ou quando vão até o banheiro.
Devido aos assédios constantes, uma policial feminina da Força Nacional teve que intervir e levar um dos pistoleiros já que o mesmo estava expondo suas genitais quando se aproximava das crianças e mulheres presentes. Entretanto, mesmo após o ocorrido, o uso dos drones não cessou e o assédio permanece.
Um dos guerreiros entrevistados conta que a comunidade mal tem dormido devido a luz alta das caminhonetes que é lançada contra eles, mas também pelo medo constante de atacarem as mulheres e crianças.
Os estudantes, em uma demonstração da máxima revolucionária de ligar-se ao povo, se incorporaram no avanço da retomada, além de realizar doações de mantimentos e colher denúncias. Junto a comunidade, cortaram madeiras, fizeram buracos, capinaram o terreno diante de um forte sol, ajudando a construir mais alguns barracos e colocando uma faixa que trouxeram expondo Todo apoio às retomadas! Abaixo os ataques do latifúndio!, bem em frente ao acampamento dos pistoleiros e da Força Nacional, que observavam de longe.
Enquanto um grupo seguiu para a cidade, outro grupo decidiu por passar a noite (em que foi frustrada a tentativa dos pistoleiros de retirar a faixa de solidariedade), voltando na manhã seguinte, prometendo difundir as denúncias e avançar no apoio da cidade com a brava luta dos guerreiros.
‘ESSA TERRA É NOSSA!’
Apesar de toda violência e descaso governamental, a comunidade segue firme lutando bravamente por suas terras e pedindo para os apoiadores de todas as regiões para que doem e que demonstrem apoio a sua luta, seja os visitando, seja espalhando as informações sobre as atrocidades que tem ocorrido com o povo Guarani-Kaiowá em seus territórios.
Em um ato de bravura, a comunidade se reuniu com os visitantes para declarar, em frente aos pistoleiros, mais uma vez que ESSA TERRA É NOSSA!
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