Imagem mostra momento em que operários evacuaram da fábrica após vazamento de amônia. Foto: Reprodução.
Seis operários foram hospitalizados no dia 26 de agosto, após um vazamento de amônia em um frigorífico do monopólio JBS na cidade de Sidrolândia, no Mato Grosso do Sul. Eles apresentaram sintomas comuns desse tipo de intoxicação, como dificuldades respiratórias, queimaduras na mucosa nasal, faringe e laringe, dor no peito, edemas pulmonares, náusea, vômitos e inchaço na boca.
Entre os anos de 2014 e 2020, foram 11 casos de intoxicação por amônia, que adoeceram cerca de 316 trabalhadores. Esses são apenas os casos que chegaram à imprensa. De acordo com Fernando Alves Leite, perito em Engenharia de Segurança do Trabalho do Ministério Público do Trabalho (MPT), o sistema de refrigeração que utiliza o fluido refrigerante amônia é o mais barato que existe no mercado, e acrescenta que vazamentos que não chegam a ser documentados ocorrem o tempo todo, quase sempre acompanhados de falta de manutenção. O agente químico pode inclusive levar à morte por asfixia, como já aconteceu antes em plantas pelo Brasil. Esses “acidentes” são, na verdade, premeditados dentro de um cálculo para o custo mais baixo possível para a produção, colocando em risco a vida dos operários
“A sobrecarga de trabalho pesado, como são esses setores que estão sendo pressionados a trabalhar mais de 8 horas todos os dias a cada funcionário que deve cumprir tarefas que normalmente seria desempenhada por até três funcionários, provoca aumento da incidência de acidentes graves e até fatais”, denuncia a presidente do sindicato Trabalhadores nas Indústrias de Carnes e Derivados de Campo Grande (STIC-CG), Gilberta Gimenes, sobre os “acidentes” de todo tipo ocorridos nas plantas.
Monopólio erigido na exploração dos operários e camponeses
O monopólio JBS é a maior empresa de proteína animal do mundo, dona das marcas Friboi e Seara. Ela atingiu esse grau justamente por sua relaçaõ direta com o latifúndio no campo, por um lado, e pela exploração do operariado nas suas linhas de produção, por outro.
De acordo o artigo Tem boi na linha da “carne fraca”, do professor Fausto Arruda, a JBS, com toda sua aparência da modernidade, é apenas a ponta de uma cadeia produtiva assentada em sua base em relações semifeudais frutos da sobrevivência do velho latifúndio em nosso país. De modo que ficou expresso em 2017, quando uma investigação da Repórter Brasil com o jornal The Guardian mostrou fornecimento direto de diversos latifúndios pecuaristas responsáveis por trabalho escravo para a JBS. Expressão da superexploração brutal a que os operários da JBS são impostos ficou evidente em 2018 quando o Tribunal Regional do Trabalho (TRT-MT) deferiu liminar contra a empresa JBS (Friboi) por violar uma série de direitos trabalhistas, como não aceitar atestados médicos, e outras questões envolvendo a saúde dos trabalhadores.
Também em 2017, a JBS foi condenada em R$ 7 milhões por demissão abusiva de cerca de 650 trabalhadores em 2016. A ação civil pública foi movida após a JBS fechar completamente e sem nenhum aviso aos trabalhadores sua unidade no município de São José dos Quatro Marcos, em Mato Grosso. Antes disso, em 2010, empregados do frigorífico JBS, sediado na Capital do MS, denunciaram a empresa ao Ministério Público do Trabalho (MPT) e à Superintendência Regional do Trabalho e Emprego (SRTE) por assédio moral e exploração excessiva de trabalho.
Apesar de todas as denúncias de um nível colossal de exploração dos trabalhadores, o velho Estado brasileiro dá a permissão para ampla atuação do capital monopolista burocrático.