MS: Pistoleiros alvejam e incendeiam casa na aldeia Bororó

MS: Pistoleiros alvejam e incendeiam casa na aldeia Bororó

No dia 6 de setembro, por volta das 11 horas da manhã, pistoleiros em duas caminhonetes efetuaram disparos de arma de fogo contra os Guarani Kaiowá do Tekoha Avaeté. Durante o ataque, foi incendiada ainda uma casa na Aldeia Bororó, no município de Dourados, Mato Grosso do Sul.

A casa pertencia a uma família Guarani Kaiowá. Viviam ali um casal e três crianças, que com medo dos ataques de disparos de arma de fogo na direção da moradia saíram da residência. Foi então, de acordo com as denúncias, que os paramilitares atearam fogo na casa. A família perdeu todos os bens, inclusive alimentos.

Os paramilitares não se intimidaram mesmo ao perceberem que o crime estava sendo filmado pelos indígenas. O vídeo mostra ainda novas ameaças dos infratores aos moradores da aldeia: “Vamos vir de noite, porque de noite não dá para tirar vídeo e nem foto, que é escuro. Vamos à noite mesmo, derrubar todas essas casas aí!”.

Os ataques contra a aldeia são constantes. Conforme denunciam os guaranis, só durante a semana em que ocorreu o ataque, foram três casas incendiadas. Outros dois incêndios ocorreram dia 31/08 e 04/09.

Casa de reza incendiada em mais um ataque contra os Guarani Kaiowá. Foto: Povo Guarani Kaiowá

A autoria do crime

Giovanni Jolando, um proprietário de terras arrendadas na região, assumiu o crime. Ele alegou que os indígenas vivem na área em que ele é arrendatário e acusa os moradores de terem destruído parte de sua plantação de milho.  

Em entrevista ao monopólio de imprensa UOL, os indígenas rebatem a acusação: “Nós é que estamos sendo atacados. Essa área pertence ao nosso povo e vamos insistir até conseguir comprovar que somos os legítimos donos”, explicou um representante dos Guarani Kaiowá que preferiu não se identificar para evitar represálias.

A resistência, luta e retomada das terras indígenas

De acordo com a Associação Povos Indígenas no Brasil (Apib), estima-se que os indígenas Bororó ocupavam esse território há pelo menos 7 mil anos. Suas terras abrangiam a Bolívia, a oeste; o centro sul de Goiás, ao leste; às margens da região dos formadores do Rio Xingu, ao norte; e, ao sul, chegava até as proximidades do Rio Miranda. Atualmente vivem em terras 300 vezes menores que seu território de origem.

Segundo o Conselho Indigenista Missionário (Cimi), a violência a que os indígenas estão submetidos na região está diretamente ligada ao contexto da reserva de Dourados, onde cerca de 20 mil indígenas vivem confinados em apenas 3,4 mil hectares. 

Atualmente 270 famílias ocupam nove territórios tradicionais: Nhu Vera I, Nhu Vera II, Nhu Vera Guasu III, Araticoté, Abaeté I e II, Ivu Vera, Jaihepiru e Itapoty. As famílias permanecem em luta pelas retomadas de terras, reivindicando seus territórios.  

Em uma entrevista ao portal Catarinas, a antropóloga indígena Jackeline Gonçalves ou kuña aranduhã (seu nome Guarani-Kaiowá), explicou a importância da luta: “Por décadas a gente vem lutando para que seja garantido o território dos povos indígenas”.

A pesquisadora argumenta: “A terra para nós é vida, e não mercadoria como para o capitalismo. Lutamos pela efetivação e proteção de nossos direito”, e afirma ainda: “Daí gera conflito e morte de quem luta pela demarcação de terras indígenas. As retomadas são territórios indígenas que estão de posse dos ruralistas e o indígena está reivindicando de volta através da ocupação da terra”.

Leia também: MS: Aldeia Bororó sofre ataque

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