MS: Retomada Avae’te é atacada novamente e reacionários se reúnem com secretário de justiça

No dia 13 de setembro, mesmo dia em que pistoleiros a mando do latifúndio invadiram e atacaram a retomada Avae’te, em Dourados, Mato Grosso do Sul, uma “Frente Parlamentar em defesa da solução dos conflitos entre indígenas e proprietários de terra”, formada sobretudo por políticos pró-latifúndio, policiais e ex-policiais, se reuniu na sede da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) de Dourados.
Adolescente Guarani-Kaiowá ferido após ataque de pistoleiros a mando do latifúndio a retomada Avae’te. Foto: Reprodução.

MS: Retomada Avae’te é atacada novamente e reacionários se reúnem com secretário de justiça

No dia 13 de setembro, mesmo dia em que pistoleiros a mando do latifúndio invadiram e atacaram a retomada Avae’te, em Dourados, Mato Grosso do Sul, uma “Frente Parlamentar em defesa da solução dos conflitos entre indígenas e proprietários de terra”, formada sobretudo por políticos pró-latifúndio, policiais e ex-policiais, se reuniu na sede da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) de Dourados.

No dia 13 de setembro, mesmo dia em que pistoleiros a mando do latifúndio invadiram e atacaram a retomada Avae’te, em Dourados, Mato Grosso do Sul, uma “Frente Parlamentar em defesa da solução dos conflitos entre indígenas e proprietários de terra”, formada sobretudo por políticos pró-latifúndio, policiais e ex-policiais, se reuniu na sede da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) de Dourados. A reunião foi marcada pela demagogia e criminalização da luta indígena.

Criada pela Câmara Municipal de Dourados e autorizada pelo Diário Oficial do município no dia 6 de setembro, a frente é presidida por Rogério Yuri (PSDB). Com duração proposta de seis meses, ela conta ainda com Fábio Luis da Silva (Republicanos), Elias Ishy (PT), Marcelo Mourão (Podemos) e Márcio Pudim (PSDB). O primeiro encontro dos parlamentares, que pode agregar “representantes governamentais e não governamentais que representem os segmentos da mencionada Frente Parlamentar”, contou com a presença do ex-delegado Antônio Carlos Videira, o reacionário secretário de Justiça e Segurança Pública do governo pró-latifúndio de Eduardo Riedel (PSDB). 

Na reunião, Videira, com toda sua sanha anti-povo, declarou que “policial meu não vai morrer na faca com fuzil na mão”. O secretário também tentou criminalizar os indígenas e justificar as operações assassinas nas aldeias ao afirmar que facções criminosas estariam cooptando os jovens indígenas para o transporte de maconha na fronteira. A hipótese é alusão a tese que ele mesmo sustentou à época em que comandou o Massacre de Guapo’y de que haviam indígenas plantadores de maconha infiltrados na retomada. Com um tom de falsa preocupação, o delegado tenta demonizar as massas indígenas que lutam pelo seu sagrado direito ao território expropriado pelo latifúndio.

Videira acumula em seu “currículo” o comando da chacina acima mencionada em Guapo’y Tujury Mirim, em Amambai, em 24 de junho de 2022. A ação injusta e ilegal da Polícia Militar contou com 65 homens, 16 viaturas e um helicóptero, ao menos oficialmente. A operação assassinou Vitor Fernandes, 42 anos, e deixou outros feridos, sendo dois jovens em estado grave com perfurações por balas. Antes disso, em 26 de agosto de 2018, ele coordenou pessoalmente, de dentro de um helicóptero, cerca de 70 policiais do Batalhão de Choque numa ação em Guapo’y, em Caarapó. Nessa incursão, também sem mandado judicial, cinco indígenas foram feridos por balas de borracha, uma mulher foi atropelada por uma viatura da PM e um ancião de 69 anos foi preso.

De dentro de helicóptero, o secretário de Justiça e Segurança Pública do
MS, Antônio Carlos Videira, comandou ação ilegal contra os Guarani-Kaiowá em
Guapo’y, Caarapó, em agosto de 2018. Foto: Reprodução.

Latifúndio impulsiona tráfico de drogas e criminalidade

Enquanto Videira usa sua pseudo-preocupação para falar da “vulnerabilidade dessas populações” utilizadas “para levar drogas para os grandes centros”, ele deixa claro que o principal não deve ser “só à disputa pela terra”. Afinal, para resolver o problema da disputa, teria que se resolver o problema da terra, o que ele não está disposto a fazer como serviçal de um governo pró-latifúndio. O mesmo reacionário descreveu o deslocamento de indígenas de Dourados para outra cidade como algo positivo, “importante”. Diz ele: “Temos muitos indígenas indo colher maçãs em Santa Catarina e no Rio Grande Sul. Isso é importante”.

O que os reacionários escondem é o papel do latifúndio tanto no deslocamento dos indígenas para outras regiões, onde são explorados em relações precárias ou até servis de trabalho, e também no fortalecimento do narcotráfico e subsequente aliciamento dos indígenas. 

Em Dourados, muitos dos indígenas que abandonam suas terras – assim como no resto do País – o fazem pelas condições de miséria que lhes são impostas (causadas pelo monopólio da terra) e pela violência nas TIs, impulsionada pelo latifúndio e seus bandos paramilitares e recrudescida pelo velho Estado. 

No caso do tráfico, o empreendimento das drogas é fortemente robustecido pelo latifúndio. Em 2008, por exemplo, a Justiça Federal de MS determinou o confisco de 85 fazendas – que juntas somam 368 mil hectares – de pessoas acusadas de lavar dinheiro proveniente de atividades como o tráfico de drogas e corrupção. Já segundo reportagem do portal investigativo De Olho nos Ruralistas, alguns dos latifundiários do MS envolvidos, em alguma escala, com o tráfico são: um empresário; a família Teixeira, donos das empresas Paso Kurusu S.A., XT Paraguai S.A e Teixeira Júnior Comércio de Cereais e Manufaturados Ltda; o sojeiro Nabor Both; e o pecuarista e ex-prefeito de Coronel Sapucaia, Eurico Mariano (PMDB). Os casos não se restringem a esse período nem ao estado: em 2017, um avião de cocaína decolou de fazenda de propriedade de Blairo Maggi, ex-Ministro da Agricultura de Temer; e nos últimos anos tem sido comprovadas as relações entre fazendeiros, pecuaristas, grilagem, garimpo, madeira ilegal e tráfico de cocaína na Amazônia, conforme investigações de A Pública e da revista Piauí.

Eurico Mariano (esq.) e Ulisses Rodrigues Teixeira (dir.) estão entre os latifundiários acusados de envolvimento com o tráfico de drogas na região da fronteira entre Brasil e Paraguai. Foto: Reprodução

A aliciação e recrutamento dos indígenas para o tráfico, em benefício justamente dos latifundiários que mais lucram com os empreendimentos, ocorre justamente por conta do robustecimento do tráfico e pelas condições de miséria impostas aos indígenas pelo latifúndio.

Dois caminhos

Se, por um lado, Videira e o atual governo de Mato Grosso do Sul escancaram seu caráter reacionário, por outro, a frente parlamentar também não tem nada a oferecer de fato aos indígenas de Dourados. O tom reacionário dessa frente fica claro pelos seus primeiros convidados: salvam-se três civis, mas predominam sete policiais, entre eles da Polícia Federal, Polícia do Interior, Polícia Militar, Polícia Civil, Departamento de Operações de Fronteira (DOF), Comando de Policiamento da Área 1 (CPA-1) e Guarda Municipal. É a manutenção da militarização da questão indígena, na mesma linha seguida pelo governo de Luiz Inácio e sua prorrogação recente da estadia da Força Nacional de Segurança Pública na região.

Os próprios indígenas já sabem dos limites das leis e do parlamento, e de como as polícias servem ao latifúndio e protegem os pistoleiros que os atacam, e escolheram seu caminho. Um morador de Avae’te, que perdeu a visão do olho esquerdo em um confronto com o latifúndio, deixa claro o apelo à luta, no mini-documentário que relata o conflito, “Pode queimar: indígenas sob ataque das milícias do agronegócio”: “Nós não vamos parar, nós vamos continuar pra nós mesmos demarcar nosso território. Se nós, pela lei, esperar, vão passar 4, 5, 15 anos, nunca irão demarcar para nós. Então, nós mesmos, nós, povo Guarani-Kaiowá, nós tem que levantar para nós mesmos demarcar, nós mesmos, porque nós somos originais daqui e nós conhece nosso território. E nós vamos lutar para sempre, no nosso tekoha Avae’te”.

Morador de Avae’te, que, mesmo tendo perdido a visão em um olho em
conflito, não se arrefece. Cena do mini-documentário “Pode queimar: indígenas sob
ataque das milícias do agronegócio”. Foto: Ruy Sposati/CIMI.
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