Uma retomada de terra indígena em Dourados, no Mato Grosso do Sul, realizada pelos Guarani-kaiowá contra a construção de um condomínio de luxo em uma área que aguarda a demarcação pela Fundação Nacional dos Povos Indígenas (Funai), foi duramente reprimida em operação conduzida pela Tropa de Choque e pelo Batalhão da Polícia Militar (PM) no dia 8 de abril. A operação criminosa, que ocorreu sem mandado judicial, resultou na prisão arbitrária de dez indígenas. De acordo com o Conselho Aty Guasu, na madrugada do dia seguinte, pistoleiros a serviço do latifúndio incendiaram a casa de um dos detidos na operação, no tekoha Aratikuty, que é vizinho à retomada, nomeada Yvu Verá. Após a repressão e as prisões arbitrárias, cerca de 400 indígenas se deslocaram para o local para prestar solidariedade aos indígenas presos.
Indígenas relatam criminalização, ameaças e violência policial durante operação
Dos 10 indígenas dos povos Guarani, Kaiowá e Terena detidos, apenas um (um idoso de 77 anos) não teve a prisão preventiva preventiva decretada pelo juiz Rubens Petrucci Junior, da 2ª vara federal de Dourados. Depois de serem presos, no dia 08/04, os indígenas foram conduzidos à Polícia Civil (PC), onde foram ouvidos seus depoimentos. Durante a audiência de custódia, no dia 09/04, seis indígenas afirmaram ter sido vítimas de violência policial, com armas apontadas para a cara. As informações são do portal Brasil de Fato.
Os indígenas relataram que foram detidos sob as falsas acusações de associação criminosa, dano ao patrimônio, esbulho possessório, ameaça, lesão corporal e posse de armas.
Pistoleiros incendeiam casa de indígena detido
Enquanto os familiares dos indígenas detidos acompanhavam o andamento do caso, a casa de um dos indígenas detidos durante a retomada foi alvo de um incêndio criminoso. Os indígenas denunciam que as pessoas que queimaram os barracos estavam uniformizadas e seriam policiais militares. O ataque ocorreu no dia 09/04 no tekoha Aratikuty, vizinho à retomada Yvu Vera.
Família multimilionária cobiça terra indígenas
Segundo ofício do Ministério Público Federal (MPF) e denúncia do conselho Aty Guasu, a empresa Corpal Incorporadora quer construir um condomínio de luxo na área. Ela está entre as mais de 60 empresas da família Fuziy (dona de empresas como Corpore, Quality e Transcol). A família atua em ramos como construção, administração imobiliária, transporte de combustíveis, investimentos, financiamento de crédito para empresas e armazenamento de produção do latifúndio e tem capital social estimado em ao menos R$ 150 milhões.
Velho Estado busca deter luta de indígenas e camponeses com prisões arbitrárias
Em vã tentativa de deter novas retomadas por parte dos povos indígenas que lutam pela terra no Brasil, o velho Estado latifundiário-burocrático, através de suas forças policiais e órgãos estatais, prende e criminaliza indígenas e lideranças indígenas que participam das retomadas. No dia 03/03, quando os Guarani-kaiowá retomaram mais uma parte da aldeia Laranjeira Nhanderu, em Rio Brilhante, cidade a 100 km de Dourados, a mando do governador reacionário Eduardo Riedel (PSDB), a PM do Mato Grosso do Sul feriu covardemente dois indígenas com bala de borracha e deteve injustamente três lideranças. Assim como no dia 09/04, a operação foi feita de forma ilegal, sem mandado judicial e se sobrepondo à competência da justiça federal.
A tática é utilizada também contra os movimentos camponeses, como se verifica na prisão de Zé Rainha, Luciano de Lima e Cláudio Ribeiro, da Frente Nacional de Lutas – Campo e Cidade (FNL) em fevereiro deste ano, e de Luzivaldo, coordenador da Área São José da Boa Vista, organizada pela Liga dos Camponeses Pobres (LCP) em Campina Verde (MG) em 2019.
Indígenas afirmam que irão seguir com as retomadas
A liderança Guarani-kaiowá Kunha Mbo’yvera afirmou que os indígenas irão fechar a BR em protesto contra as prisões arbitrárias. A liderança também denunciou que a terra em questão é grilada e que os indígenas não recuarão, pelo contrário, farão novas retomadas e ocuparão mais áreas reivindicadas. As informações são do Conselho Indigenista Missionário (Cimi).