Trabalhadores da JBS protestam contra aumento da exploração em unidade da empresa devido a alta na exportação. Foto: MPT-RS/RS
Cerca de 500 trabalhadores de um frigorífico da JBS-Seara paralisaram as atividades na fábrica por cerca de 40 minutos em protesto contra o incessante ritmo de trabalho. O caso aconteceu no dia 6 de outubro, em Sidrolândia, cidade a 71 quilômetros de Campo Grande, no Mato Grosso do Sul.
Com o protesto, o gerente de produção e o de recursos humanos da fábrica foram obrigados a receber representantes dos trabalhadores para ouvirem as reivindicações destes.
Os trabalhadores reclamam do aumento na produção e exportação, a empresa tem explorado ainda mais os trabalhadores, tentando fazê-los trabalhar inclusive aos domingos, deixando-os sem nenhuma folga na semana.
O vice-presidente do Sindicato dos Trabalhadores das Indústrias de Carnes e Aves de Sidrolândia (Sindaves), Sérgio Bolzan, disse que “os trabalhadores vinham reclamando há dias. Não aguentavam mais. Como a gerente e a equipe de supervisão não tomaram providência, os trabalhadores largaram o trabalho, saíram da sala de corte e vieram ao saguão”.
Bolzan conta que mais de 200 trabalhadores ligados ao abate dos animais foram afastados do trabalho pelo Instituto Nacional do Seguro Social (INSS). Segundo Bolzan, os trabalhadores foram afastados devido a dores nos punhos, braços e costas, situação que tem ligação direta com o aumento excessivo de trabalho.
“Há seis meses, eram pendurados 16 frangos vivos por minuto. Agora, os trabalhadores estão pendurando 22. A desossa da coxa também aumentou para 5 a 6 por minuto. Antes, era metade. Mas a empresa não quer discutir o ritmo. Alega que o problema é a faca. Não quer discutir o foco principal”, conta o vice-presidente do Sindaves.
A JBS é a maior empresa de proteína animal do mundo, a empresa registrou no 2º trimestre de 2021 lucro líquido de R$ 4,4 bilhões, 29,7% a mais que no mesmo período do ano passado. Foi o maior lucro trimestral da história da empresa.
No ano de 2021, durante a pandemia, a produção diária na fábrica da JBS em Sidrolândia cresceu 16,6% e chegou ao número de 210 mil frangos abatidos por dia. Antes da pandemia a unidade abatia por dia 180 mil animais. Os trabalhadores fazem três turnos de trabalho com jornadas de 7h22m de segunda a sábado.
Desde o início da pandemia, 500 trabalhadores indígenas foram afastados do trabalho, na unidade de Sidrolândia, por serem do grupo de risco do coronavírus. Os postos de trabalho ocupados por estes não foram repostos e a empresa obrigou os trabalhadores que ali ficaram a trabalharem mais para aumentarem a produção. Prova disso foi o aumento de 180 para 190 mil abatimentos diários de frango.
“Mais lesões por esforço repetitivo, que são reflexo do aumento do ritmo de trabalho, vão começar agora. Geralmente, aparecem 6 a 8 meses depois. Muitos trabalhadores da unidade estão saindo, pedindo as contas, porque não aguentam mais”, relatou Sérgio Bolzan.
E continuou:
“O setor frigorífico no Brasil nunca lucro tanto como na pandemia. A JBS praticamente dobrou a receita. Nós não somos contra o aumento da produção, desde que a empresa dê condições, contrate mais trabalhadores, amplie as linhas de produção, e garanta um ritmo acessível. Da forma como é feito hoje, é desumano com os trabalhadores, porque ela ainda pressiona os trabalhadores a não pedir atestado”, contou Bolzan.
No mês de setembro de 2021, a empresa foi parar na justiça após organizar um “churrasco” para os funcionários num dia de domingo. O caso teve repercussão e a empresa foi acusada de tentar atrair os funcionários para que estes trabalhassem no domingo, com a repercussão negativa o churrasco foi antecipado para um dia de semana.
Empresas aumentam exportação de carnes, enquanto brasileiros passam fome
Todo frango abatido e desossado no frigorífico da JBS em Sidrolândia é destinado à exportação, principalmente para países da União Europeia, China e o Japão.
Enquanto isso, o consumo de carnes de origem animal despenca no Brasil devido a elevada inflação, alta nos preços dos alimentos e queda no poder de compra das famílias trabalhadoras. Segundo um estudo feito pela Consultoria LCA, alimentos como carne bovina, frango, carne de porco e ovo, terão aumento médio de 10% em 2021.
Ainda de acordo com o estudo, as maiores altas serão respectivamente: carne bovina (17,6%), carne de porco (15,1%), frango (11,8%) e ovo (7,6%). os números divulgados por especialistas é muito maior do que o número oficial de 5,9% divulgado pelo Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA). No caso da carne bovina, o aumento é três vezes maior em relação à inflação oficial medida no país.
Para piorar o cenário, a Associação Brasileira de Supermercados (Abras), já prevê um aumento de 10% e 15% nos preços do frango já no fim de julho e início de agosto e para piorar a situação, a previsão de aumento durará até 2022.