No dia 27/06, a tropa de choque da Polícia Militar (PM) adentrou o território Nova Yvu Vera e, sem dialogar, disparou balas de gás lacrimogênio (aparentemente sem data de validade) contra mais de 30 indígenas, incluindo crianças e idosos.
A ação criminosa dá continuidade aos ataques que começaram contra a comunidade em abril, quando, a partir da luta contra a construção de um muro pela construtora Corpal, dez indígenas foram presos, conforme noticiou o AND. Nos meses seguintes ao acontecimento, várias perseguições continuaram a ocorrer, seja por parte da polícia, seja por parte de empresários que financiaram pistoleiros.
A retomada fica muito próxima a uma rodovia em que estão instaladas diversas empresas, dentre elas a megaempresa Conti, a Supermix (com 120 filiais no Brasil e sede nos EUA) e a Lajes Bronel. Todas as empresas ficam em território reivindicado pelos indígenas, que afirmam que seu espaço foi sendo expropriado por essas corporações ao longo dos anos. Em carta aberta de 23 de maio direcionada a Fundação Nacional dos Povos Indígenas (Funai) e ao Ministério dos Povos Indígenas, a comunidade Yvu Vera afirmou que eles se sentem “empurrados pelas empresas e chácaras, mas não vamos sair do nosso tekoha”.
Os indígenas afirmam que a Supermix escavou terras dentro dos limites de seu tekoha que ela estava vendendo para terceiros e que, após ser notificada pelo Ministério Público Federal, ela passou o serviço de tapar os buracos para a Planacon. Com relação a Conti, de início, os indígenas comentaram que não tinham problemas com eles, mas que passaram a receber ameaças como “o que é desses índios tá guardado”. Eles relatam também que a Lajes Bronel possui um poço artesiano dentro do território indígena e que adentraram a área da propriedade da empresa – que eles acusam de serem terras roubadas e griladas – na tentativa de dialogar pacificamente sobre o uso de água pois havia crianças passando sede. Esse seria o motivo pelo qual a PM foi acionada e brutalmente reprimiu os indígenas. Diante de todos esses conflitos, eles exigem a retirada das empresas de seu território.
O Comitê de Apoio ao Jornal A Nova Democracia em Dourados esteve presente no local do ocorrido. Pudemos verificar que, além do medo que faz com que alguns durmam apenas 30 minutos por dia, há um empenho coletivo em manter a retomada, com inclusive plantações para autossustentação. Em entrevista com lideranças locais, verifica-se que o espírito dos guerreiros mantém-se firme e altivo, reafirmando que não irão desistir da luta pelo seu sagrado direito à terra. Com relação aos últimos acontecimentos, uma liderança afirmou que: “Se eles prenderem 10 lideranças, vão nascer 20-30 lideranças!”.