No dia 24 de agosto, pistoleiros invadiram a Terra Indígena (TI) Capoto Jarina localizada no estado do Mato Grosso, e dispararam tiros em direção aos Kayapós residentes da Aldeia Piaraçu. O fato ocorreu dias após o bloqueio da BR-163 pelos indígenas que durou cerca de uma semana.
Durante o ataque, os invasores dispararam pelo menos 29 tiros em uma barreira sanitária construída pelos indígenas, de carro seguiram para aldeia de Piaraçu e depois em direção ao município de São José do Xingu. Nenhum indígena ficou ferido.
As barreiras sanitárias foram construídas por diversos povos indígenas em todo país, visando barrar de forma independente o avanço do COVID-19 em seus territórios. Na aldeia onde houveram os disparos residem 327 Kayapós. Dada a falência do velho Estado, são contabilizados duas mortes e 114 casos da doença na TI, que possui a população de 2.423 indígenas.
Balas disparadas contra a barreira sanitária. Foto: Reprodução/Instituto Sócio Ambiental
Indígenas fecham vias em protesto
O ataque aconteceu pouco depois dos Kayapós fecharem a BR-163 no dia 17 de agosto, conforme noticiado pelo AND. O fechamento ocorreu em protesto aos atrasos e promessas não cumpridas por parte do velho Estado, como as demandas relacionadas à saúde indígena (demandas conquistadas após o protesto) e renovação do Plano Básico Ambiental (PBA) que deveria ser condicionante para realização de obras na rodovia. Na ocasião os indígenas além do fechamento, queimaram um ofício enviado pela Fundação Nacional do Índio (Funai) que visava o fim do protesto com uma negociação que se estenderia até fevereiro de 2021. De acordo com o monopólio UOL, após a queima do documento da Funai, o vice-presidente do Instituto Kabu, Mydjere Mekragnotire, afirmou que Funai é inimiga dos kayapós.
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Em carta emitida em meio ao protesto, os indígenas afirmam: “Não aceitamos o Exército, a Polícia Federal ou Polícia Militar vir aqui nos tirar à força. Desse jeito vai ter sangue derramado nesse asfalto. Estamos aqui defendendo a proteção da Amazônia, a proteção do nosso território”. E prosseguem: “O governo quer abrir as terras indígenas para projetos que são ilegais, como garimpo, extração de madeira e arrendamento de pasto em nossas terras. Isso nós não aceitamos. Todo projeto deverá ser discutido e construído com as comunidades indígenas. Não aceitaremos o governo fazer imposição ou atropelar os nossos direitos”.