Em entrevista ao Roda Viva ontem (10/2), o ministro da Defesa José Múcio Monteiro apoiou anistiar uma parcela dos galinhas verdes que tomaram parte nas agitações golpistas do dia 8 de janeiro de 2023. O ministro também deixou claro que não tem convicção se houve ou não uma tentativa de golpe no Brasil: “vamos saber se havia um golpe verdadeiramente arquitetado se nos inquéritos aparecerem as denúncias”, comentou ele.
Em outro momento, Múcio disse que não viu “uma arma” e que as Forças Armadas “não tinham nada a ver” com o ato. Na verdade, vários oficiais da ativa participaram dos preparativos para a tentativa de golpe, dentre eles o então general do Alto Comando do Exército, chefe do Comando de Operações Terrestres (Coter), Estevam Theophilo. Vídeos do dia 8/1 também indicam a participação de militares kids preto na manifestação.
Vários indícios também apontam que os oficiais aquartelados deram apoio logístico aos acampamentos bolsonaristas erguidos na frente dos quartéis. Esses acampamentos foram chave para a agitação golpista e para a mobilização para o 8/1.
A posição de Múcio é a mesma defendida por bolsonaristas, a começar pelo chefete da extrema-direita. “Nunca vi golpe domingo. Nunca vi golpe sem arma”, disse Jair Bolsonaro, em uma entrevista em junho de 2023. De lá para cá, a posição foi reiterada várias vezes. “Você tem que ter armas, você tem que ter conspiração, é tanque na rua, tem que ter uma autoridade, uma personalidade conuzindo esse golpe. Nada disso teve”, disse ele, em fevereiro de 2024, à rádio CBN.
Na semana passada, a posição foi defendida pelo novo presidente da Câmara dos Deputados, Hugo Motta (Republicanos-PB). “Agora querer dizer que foi um golpe. Golpe tem que ter um líder, tem que ter pessoa estimulando, apoio de outras instituições interessadas, como as Forças Armadas, e não teve isso”.
Motta, assim como Múcio e Bolsonaro, também disse há um “certo desequilíbrio” nas penas impostas pelo STF aos bolsonaristas que participaram do 8/1.
No final de semana, governistas se revelaram impressionados com a fala de Motta e disseram que a declaração foi “intencional” e que pode “guardar algum recado”, principalmente em relação ao PL da Anistia. Uma espécie de aceno.
Se for o caso, os governistas devem se escandalizar também com Múcio. A fala do porta-voz do Alto Comando das Forças Armadas (ACFA) é um aceno direto, dos generais e do Ministério da Defesa, aos parlamentares em relação ao PL da Anistia e sobre como encarar o 8/1. Não à toa, Múcio lembrou que a decisão da anistia cabe ao Congresso.