Municípios suspendem a vacinação contra a Covid-19 por falta de doses

Municípios suspendem a vacinação contra a Covid-19 por falta de doses

O Brasil já ultrapassa o número astronômico de 240 mil mortos por Covid-19, com 1056 óbitos por dia, cenário catastrófico que só poderia chegar a tal estado com muito planejamento. Foto: Ueslei Marcelino.

Milhares de municípios estão suspendendo a vacinação contra a Covid-19 apenas um mês após o início da vacinação no país. Segundo o presidente da Confederação Nacional de Municípios (CNM), Glademir Aroldi, 60% das cidades brasileiras já estão sem doses do imunizante e até o final da semana, esse número deve beirar os 100%. A entidade chegou a lançar uma carta aberta pedindo a demissão do Ministro da Saúde, general Eduardo Pazuello, para o “bem dos brasileiros”.

De acordo com o consórcio de veículos de mídia, o Ministério da Saúde distribuiu aos municípios 9,8 milhões de doses da CoronaVac e 2 milhões de doses da Oxford-AstraZeneca. Isso só dá para imunizar menos 6 milhões de pessoas, já que as duas vacinas exigem uma dose de reforço. Com isso, apenas 2,11% da população brasileira recebeu a primeira dose de uma vacina contra a covid-19 e 0,05% as duas.

Capitais extremamente populosas como Rio de Janeiro, Salvador e Cuiabá, já suspenderam a vacinação por falta de doses. Fortaleza, Curitiba, Florianópolis e Porto Alegre estão com os estoques no fim. Em todas elas a vacinação foi suspensa quando ainda estava na faixa etária entre 85 e 90 anos.

Nem sequer os profissionais da saúde e as pessoas do grupo de risco foram imunizadas. Fato curioso é que a suposta falta de planejamento do Ministério da Saúde (argumento que alguns alegam à inoperância deste) já era algo previsto mesmo antes do início da vacinação. Como demonstra esta entrevista do jornal do monopólio de imprensa o Globo com o  professor do Departamento de Medicina Preventiva da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (USP) e autor da nota técnica “Vacinação prioritária contra Covid-19 para trabalhadores da saúde no Brasil”, Mário Scheffer, no início da vacinação, em meados de janeiro de 2021. “Temos um cenário de improviso e precariedade na vacinação contra a pandemia. Era obviamente para esse planejamento ter sido feito há meses. Se há correria é porque o Ministério da Saúde não fez o trabalho dele, de organizar em detalhes grupos e critérios e planejar a distribuição aos estados. Continuamos sem vacina num momento de expansão da pandemia”, afirmou o professor.

O Brasil já ultrapassa o número astronômico de 240 mil mortos por Covid-19, com 1056 óbitos por dia, cenário catastrófico que só poderia chegar a tal estado com muito planejamento. Nesta situação ainda tivemos pessoas morrendo por falta de oxigênio, em Manaus, capital do estado do Amazonas. Fato inclusive que  fez ser aberta uma investigação sobre a conduta e a responsabilidade de Pazuello, o carniceiro, das mortes desses brasileiros no norte do país. 

Um trecho do texto Subjugação nacional impede que tenhamos vacina contra Covid-19. Vacina para o povo, já!, da professora Maria de Fátima Siliansky Andreazzi, que foi publicado pelo AND, faz a análise das práticas adotadas pelo governo federal representado por Bolsonaro/generais e a conduta, no mínimo suspeitas, destes no combate à pandemia: “Várias práticas indicam isso. Citemos alguns exemplos no Brasil: deixar que as pessoas se infectem em massa, pois nunca houve programa decente de isolamento social com renda garantida e acesso ao isolamento para quem não possa fazê-lo em casa; estimular aglomerações em transportes coletivos que não foram ampliados e em serviços (bares, baladas), estando até Bolsonaro entre os aglomeradores; criticar o uso de máscaras dizendo que as pessoas são covardes; subestimar a doença chamando-a de gripezinha; não ampliar permanentemente hospitais; deixar profissionais de saúde sem salário (ex: município do Rio de Janeiro); e não fazer nada para apressar a vacinação – o Ministério da Saúde não compra seringas, fazendo corpo mole com a oferta da OMS. Tudo isso, não é querer que as pessoas morram? Principalmente os mais vulneráveis que estão fora do mercado de trabalho e pesam nas contas dos seguros? Por mais que a eficácia das vacinas até então desenvolvidas não se equiparem a velha vacina Sabin, é o que temos agora. Só uma vacinação em massa, inclusive, pode garantir uma proteção maior à população”.

Portanto a falta de um programa nacional de imunização é notória, algo que faz pensar que algo assim não seria fruto de mera incapacidade, mas sim de um planejamento pensado.

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