Não há razões para comemorar

Desmoralização de Bolsonaro, ou até sua prisão, não resolverão problema do golpismo no País. Foto: Mauro Pimental/AFP

Não há razões para comemorar

O monopólio de imprensa e todos os ideólogos “liberais” das classes dominantes estão em frenesi diante das últimas informações do noticiário político. Todos comemoram as investigações que encurralam Bolsonaro de um modo como nunca antes. Primeiro, na CPMI, o misterioso “hacker” acusou-o de tentar provar a fragilidade do processo eleitoral (e, de resto, em tudo, corroborou com as acusações de Bolsonaro, de que é fácil manipular a urna eletrônica). Depois, o ex-ajudante de ordens Mauro Cid, através de seu advogado, prometeu uma confissão que envolveria Bolsonaro no roubo e revenda de relógios e joias (em seguida, atenuou sua afirmação). Independente da troca de versões e do depoimento de um mentiroso profissional, a verdade é que cresce o cerco ao capitãozinho, com prisão de alguns de seus cupinchas, como sete comandantes da PM do DF, já estão na cadeia, por cumplicidade na bolsonarada de 8 de janeiro.

Os apologistas da democracia burguesa – todos eles – tomam como se isso significasse um expurgo ao extremismo de direita, livrando o País do fantasma de golpe de Estado, e respiram aliviados. Os mais emocionados – como os “jornalistas” da Rede Globo – chegam mesmo a chamar de “um daqueles grandes dias históricos…” o 17 de agosto, quando vazou a linha da defesa jurídica de Mauro Cid. Calma, muito calma nessa hora.

A verdade é que nada indica que Bolsonaro será preso agora e nem tão cedo. Tampouco parece ser esse o objetivo primeiro do cerco montado. As investigações querem, sobretudo, desmoralizar o chefe da extrema-direita e fazer aproximações sucessivas para medir a reação de sua base extremista. Eles – os generais direitistas, os reacionários “civilizados” no Supremo e no Congresso, os nobres “liberais” – não podem dar uma punição exemplar à extrema-direita correndo o risco de inflamar a base nas tropas e na opinião pública reacionária e alastrar a violência política pelo País, o que fortaleceria a liderança de Bolsonaro. A prisão de Bolsonaro só será uma possibilidade real quando ele estiver sem capacidade significativa de coesionar e inflamar sua base nas tropas e na sociedade. No entanto, a tendência da situação política não é o apaziguamento, mas a sua radicalização com base no acirramento da luta de classes, principalmente no campo.

Por outro lado, a desmoralização completa de Bolsonaro – ou mesmo uma eventual prisão –, se ocorrer, sequer tocará no germe golpista que ronda o País. As suas raízes são profundas. Uma delas são as próprias Forças Armadas reacionárias. São elas as verdadeiras responsáveis por essa ofensiva contrarrevolucionária preventiva, na forma de intervenção militar passo a passo, como resposta às Jornadas de 2013-14, para tentar aplacar a revolta generalizada e prevenir o perigo de revolução. Os seus altos mandos da ativa ou que foram da ativa há pouco, partícipes em vários níveis da interferência aberta na vida política do País, morrerão provavelmente impunes e preservados; assim como preservado sempre esteve o germe golpista enraizado na própria doutrina, cursos e currículos das Forças Armadas, que consideram a si mesmas fundadoras da República e, portanto, tutoras naturais da mesma, o que nunca foi tocado pelos governos “progressistas”. Além disso, uma eventual “morte política” de Bolsonaro não significará a liquidação da extrema-direita, hoje bolsonarista, mas que forjará outro cabeça tão logo este desapareça politicamente. A extrema-direita se reproduz diariamente, nas tropas policiais e militares e no seu círculo social mais próximo cotidianamente mobilizados para a guerra contra o povo na cidade e no campo, de onde são recrutados os pistoleiros do latifúndio e grupos paramilitares nas cidades (“milícias”); se reproduz na insatisfação e frustração dos setores mais instáveis e atrasados dos trabalhadores e pequenos proprietários com a democracia burguesa que só traz crises, roubalheira e ataques aos seus direitos, enquanto dá privilégios aos políticos e às classes dominantes de grandes burgueses e latifundiários, serviçais do imperialismo. É a natureza reacionária dessa velha democracia que gera a extrema-direita, que depois busca negá-la. Nestas raízes, os “campeões” da democracia burguesa não tocam e nem podem tocar.

Ao longo das últimas duas décadas, o jornal A Nova Democracia tem se sustentado nos leitores operários, camponeses, estudantes e na intelectualidade progressista. Assim tem mantido inalterada sua linha editorial radicalmente antagônica à imprensa reacionária e vendida aos interesses das classes dominantes e do imperialismo.
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