A Polícia Militar da Bahia, conhecida por ser a mais assassina do Brasil, realizou nesta quarta-feira (07/05) uma homenagem ao general nazista Erwin Rommel nas redes sociais. Durante a postagem a PM classifica um dos maiores representantes do regime destruído pela União Soviética, comandada por Stalin, como “um dos maiores estrategistas militares da história”.
A imagem foi publicada na página do Instagram da Academia da PM da Bahia. Os policiais deletaram a publicação depois de uma enxurrada de comentários em rechaço à homenagem. Para tentar aliviar, os PMs depois publicaram uma foto da Madre Teresa de Calcutá.
“O post é revelador da mentalidade de guerra e das fontes de inspiração cultivadas pela instituição [PM], através de sua escola de formação”, disse o professor de Direito da Universidade Federal da Bahia (UFBA), Samuel Vida, em entrevista ao jornal Correio. “A busca de inspiração em perfis como o de Rommel diz muito sobre os valores e os modelos que animam a atuação da polícia mais letal do Brasil, especialmente contra pessoas pretas.”
Em 2023, os PMs da Bahia assassinaram ao menos 1.465 pessoas pretas – um índice de aproximadamente quatro por dia. Além disso, 97% dos presos no estado são pretos e mais da metade deles estão atrás das grades sem ter passado por julgamento.
O nazista homenageado pela PM tinha alvos similares: ele foi comandante da Afrika Corp, organização militar nazista paa colonização do Norte da África. Durante a campanha na Líbia, a Afrika Corp enviou mais de 2 mil judeus para campos de concentração. Na Alemanha, 500 deles foram assassinados por fome ou por doenças tratáveis.
Essa é a segunda vez em menos de um mês que policias militares homenageiam e reverenciam a ideologia nazista e o supremacismo branco. Em meados de abril, o 9° Batalhão de Polícia de São José do Rio Preto, São Paulo, publicou no Instagram um vídeo em que policiais faziam uma saudação fascista em frente a uma cruz em chamas, um ritual similar da organização racista Ku Klux Klan.
Embora o episódio tenha sido amplamente condenado pelas massas populares, a PM de SP decidiu não punir os envolvidos.
O general nazista que morreu de medo dos comunistas
O post dos PMs baianos foi feito na forma de “pensamento do dia”. “Suor poupa sangue, sangue poupa vidas e cérebros poupam ambos” foi a frase de Rommel citada pelos policiais. A fórmula nunca foi usada pelo Exército nazista e nem pela Polícia Militar – que, somente no primeiro semestre de 2024, matou 831 pessoas.
O post também traz uma breve biografia de Rommel, mas sem nenhuma menção ao Exército nazista. “Ele serviu como general marechal de campo da Wehrmacht, nas forças armadas da Alemanha durante a Segunda Guerra Mundial”, contam os policiais negacionistas.
No passado, Rommel foi tratado por personalidades como um “bom nazista”. “”Ele merece a nossa atenção, porque, embora seja um soldado alemão leal, passou a odiar Hitler e os seus crimes e participou da conspiração de 1944, para salvar a Alemanha através da deposição do tirano louco”, disse o ex-primeiro-ministro britânico, Winston Churchill.
Mas essa versão é contestada por historiadores como o professor da Universidade de Mannheim e diretor do Memorial da Resistência de Berlim, Peter Steinbach. “Rommel não foi um bom nazista porque ser nazista e ser bom eram duas coisas inconciliáveis. O que houve foi que ele passou a duvidar de Hitler ao ver que este queria continuar a guerra até a autodestruição”.
Durante toda sua vida, Rommel galgou degraus pela subserviência a Hitler. Ele teve sete promoções em oito anos. A reviravolta só veio no fim da guerra, quando Hitler e parte do Alto Comando nazista, tomados de desespero pela ofensiva soviética que atropelava as hordas nazistas, começaram a dar odens de suicídio para os generais. A história oficial diz que Rommel foi um desses e obedeceu Hitler pela última vez ao ingerir cianeto.
Ele morreu em 14 de outubro de 1944, menos de quatro meses depois que o general soviético Joseph Stalin deu a ordem para que o Exército Vermelho marchasse até Berlim. E menos de um ano antes dos herois soviéticos hastearam a bandeira da Pátria socialista sobre o prédio do Parlamento alemão.