Nepal: Milhares de massas se rebelam contra envio de meio bilhão de dólares do USA ao país

Nepal: Milhares de massas se rebelam contra envio de meio bilhão de dólares do USA ao país

Manifestantes nepaleses que rechaçam o envio de meio bilhão de dólares do USA para o Nepal entram resistem à polícia do lado de fora do parlamento em Katmandu, 24 de fevereiro de 2022. Foto : Niranjan Shrestha.

Milhares de massas nepalesas se rebelaram contra o envio de meio bilhão de dólares da potência imperialista hegemônica única, o Estados Unidos (USA), ao Nepal, na tentativa de explorar ainda mais a Nação através de acordos leoninos que buscam explorar a mão de obra local, seus recursos naturais e expandir seus mercados. O povo tomou as ruas da capital, Katmandu, em fevereiro e enfrentaram com pedras as forças de repressão que os atacava com balas de borracha e gás lacrimogêneo.

Contra o latente ataque à soberania nacional, nos dias 20 e 24/02, as massas enfurecidas protestaram em frente ao parlamento nepalês, enquanto os políticos do velho Estado discutiam a proposta. Os manifestantes gritavam palavras de ordem e resistiam contra a tropa de choque da polícia que disparava bombas de gás lacrimogêneo, canhões d’água e espancava os manifestantes com bastões de bambu. As massas, por sua vez, se defendiam lançando pedras.

O atual governo do primeiro-ministro Sher Bahadur Deuba realizava as negociações do subsídio com o Millennium Challenge Corporation (MCC), organismo exclusivamente ianque para garantir financiamentos a países de terceiro mundo. 

O valor escandaloso seria para a construção de infraestrutura básica, como para linhas de transmissão de energia e melhoria de estradas. As massas protestam mesmo contra a construção pelo imperialismo dessas infraestruturas, que apesar de escassas no país, quando desenvolvida pelas potência imperialistas significa um grande processo de despojo no campo, visto que para a construção de mega empresas e estruturas e sem consideração nenhuma pela população local, tiram as terras dos camponeses para que construam em locais que sirvam aos seus negócios. A partir disso, exploram a mão de obra local, retiram as riquezas naturais nacionais e as enviam para o estrangeiro, assim como expandem seus mercados aos países subjugados.

O envio do subsídio pelo imperialismo ianque tem a intenção de minar a principal potência a subjugar o Nepal, a China social-imperialista, cujo projeto estratégico da “Nova Rota da Seda” o Nepal faz parte desde o ano de 2017. O projeto da “Nova Rota da Seda” também diz respeito à construção de estradas e de transmissão de energia nos países lacaios.

Manifestantes nepaleses que rechaçam o envio de meio bilhão de dólares do USA para o Nepal resistem à polícia do lado de fora do parlamento em Katmandu, 24 de fevereiro de 2022. Foto: Niranjan Shrestha.

As intenções do imperialismo ianque

O acordo foi aprovado às pressas pelo parlamento no dia 27/02, um domingo, após o secretário de Estado adjunto do USA para Assuntos da Ásia Meridional e Central, Donald Lu, declarar que o acordo deveria ser firmado até 28/02 ou Washington “revisaria seus laços com o Nepal”. O acordo havia sido proposto já em 2017, mas apenas agora conseguiu unidade o suficiente entre a camarilha de políticos reacionários para a sua aceitação. 

As declarações do governo ianque foram cínicas desde o início quanto ao país de terceiro mundo, ameaçando que “se o Nepal não quisesse o dinheiro, apenas teriam de dá-lo a outra nação que o quisesse”, ou “aliviando” a retórica e afirmando que o subsídio seria “um presente do ‘povo Americano’ e uma ‘parceria’ entre as duas nações”.

O ministro das Finanças do Nepal, Janardan Sharma, do dito “Partido Comunista do Nepal (Maoista)” afirmou que o “governo declarou agora que o Pacto MCC é um projeto puramente econômico. Agora, não deve haver nenhuma suspeita sobre este programa”, disse Sharma. 

Ele ainda “garante” que o pacto “não faz parte da Estratégia do Indo-Pacífico do Estados Unidos”, um estratégia definida pelo atual presidente do USA, Joe Biden, de construir relações de subjugação com países da região na tentativa de explorar uma das regiões mais importantes atualmente no mundo, a Eurásia, e principalmente de tomar áreas de influência chinesas e de cercar a potência imperialista inimiga. 

Nessa estratégia declarada e tomada como meta pelo governo ianque, está prevista mesmo a criação de bases militares ianques em países asiáticos. Sobre isso, está posto no documento da Casa Branca sobre a Estratégia do Indo-Pacífico, divulgado em fevereiro de 2022: “De acordo com nossa abordagem estratégica mais ampla, daremos prioridade à nossa maior força assimétrica: nossa rede de alianças e parcerias de segurança. Em toda a região, os Estados Unidos trabalharão com aliados e parceiros para aprofundar nossa interoperabilidade e desenvolver e implantar capacidades avançadas de combate de guerra […].”

Manifestantes nepaleses que rechaçam o envio de meio bilhão de dólares do USA para o Nepal resistem à polícia do lado de fora do parlamento em Katmandu, 24 de fevereiro de 2022. Foto : Niranjan Shrestha.

A traição da Guerra Popular

Entre os anos de 1996 e 2006, tomou lugar no Nepal uma vigorosa Guerra Popular Prolongada, onde, por muito tempo, o heróico povo nepalês, operários e camponeses, dirigidos pelo então revolucionário Partido Comunista do Nepal (Maoista), alcançou altos cumes da Revolução de Nova Democracia. Foi na Guerra Popular Prolongada onde as massas lutavam pela libertação do país de uma monarquia feudal e do capitalismo burocrático, onde conquistaram áreas de Novo Poder e nelas produziam uma nova economia, autocentrada e visando o bem estar do povo e desenvolvimento da Nação, uma nova política, com governos populares apoiados em Assembleias do Poder Popular das quais participavam todas as massas, e uma nova cultura, com o fim da cultural feudal-burocrática. Foi no Exército Popular de Libertação, por exemplo, que as mulheres, proibidas de frequentarem a escola pela monarquia, aprendiam a ler e escrever, assim como tantas outras vastas parcelas do povo nepalês que encontraram na Guerra Popular a única forma de exercer a democracia verdadeiramente popular. Os maoistas e massas nepalesas chegaram a conquistar 80% da área do país como liberta.

De acordo com o AND, após 10 anos de heroica Guerra Popular, dirigida pelo Partido Comunista do Nepal (Maoísta), no ano de 2006 posições capitulacionistas que já vinham sendo defendidas por alguns dirigentes do PCN (M) foram tornadas públicas com o anúncio de um “cessar fogo” e o fim da luta armada, e posterior conformação de um governo onde atuaram capituladores da guerra popular junto com as forças monárquicas e contrarrevolucionárias. As posições capitulacionistas vinham sendo difundidas como “Caminho Prachanda”, como variante do novo revisionismo.

O que os dirigentes do PCN (M) anunciaram como avanço da democracia no país foi revelado, posteriormente, não só por suas palavras, mas também pelos fatos, na completa traição e capitulação da Guerra Popular.

O revisionista Prachanda foi eleito primeiro-ministro do Nepal e o rei foi deposto, fundando-se a República Federal Democrática do Nepal. O governo de coalizão foi estabelecido com base num programa oportunista que não tocou em profundidade sequer nas bases da feudalidade.

Enquanto isso, o povo nepalês continua lutando por sua independência e contra os sintomas do capitalismo burocrático, ainda que sem o partido revolucionário do proletariado, como demonstram as manifestações multitudinárias atuais contra o imperialismo ianque.

Manifestantes nepaleses que rechaçam o envio de meio bilhão de dólares do USA para o Nepal resistem à polícia do lado de fora do parlamento em Katmandu, 24 de fevereiro de 2022. Foto: Niranjan Shrestha.

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