Publicamos abaixo o poema “Ninguém para a luta dos estudantes”, de Ady Estellita, enviado à Redação de AND.
Ônibus, aula, ônibus…
Biblioteca, trabalho, casa…
Estuda, trabalha,
mal come, não dorme…
Estuda pra trabalhar,
Trabalha pra estudar
Se acostumou com a insônia
Com os remédios
Com a falta de descanso
E com o descaso com que é tratado
Não basta sua atual situação
Ainda é roubado
Na cantina, no restaurante universitário,
Nas copiadoras, nas livrarias…
É ainda taxado:
“Desinteressado, preguiçoso, maconheiro”
Mais um busão lotado;
Chega na aula atrasado
Sem descanso o dia inteiro.
Lê nas esperas,
Nas escadas,
Nas calçadas.
Assaltam-no,
Roubando seu celular.
Fica sem como estudar, sem como trabalhar
Sua escola com aula de fachada;
Seu curso, ameaçado de fechar;
Sem emprego pra quando se formar…
Trabalha pra estudar
Estuda pra trabalhar
Mas trabalho bom não tem
Tem nada que lhe sustém
Segue com sono, sem descanso,
Sem tutano no osso,
Mas com contas pra pagar.
Só seu esforço já é vitorioso
Mas sabe que só ele não basta:
Se revolta, ergue faixa
Palavras de ordem
Quase implora pra comer, estudar…
Mas ninguém se importa
– é pobre.
Fazem-no promessa atrás de promessa, atrás de promessa, atrás de promessa…
Dão tantas cruzes pros estudantes carregarem
Que lotariam a igreja da Santa Bárbara
– santa barbaridade, esse Velho Estado!
Mas Zé do Burro não é burro não
Nada barra os estudantes
E sua sublevação
Se alguém aprende rápido, é estudante:
Escolas são ocupadas;
Barricadas, erigidas
Logo, logo ocuparão as avenidas
Coração do lado certo
Punho cerrado aos céus
Ousando escalar às alturas
Rompem-se os véus
Tal como ocorreu dantes
Ninguém para a luta dos estudantes