
Bilhete entregue à ouvidora Márcia Honorato por uma testemunha
No dia 9 de dezembro, nossa reportagem foi ao Complexo do Alemão, na zona Norte do Rio de Janeiro, onde dois jovens teriam sido assassinados por policiais da Unidade de Polícia Pacificadora (UPP) da favela Nova Brasília, inaugurada no dia 1º de junho deste ano. Segundo testemunhas, depois de baleados, os jovens Wallace de Souza, de 21 anos, e Joseph Alexandrino, de 19 anos, foram executados pelos PMs. Um jovem que presenciou parte da ação dos policiais disse que os dois rapazes foram feridos a bala e, em seguida, assassinados a sangue frio, um com um tiro no peito e o outro com um disparo na cabeça. O crime aconteceu em plena luz do dia e foi testemunhado por várias pessoas, inclusive por crianças.
— Eles pegaram os meninos vivos e os levaram até um certo ponto. Bateram muito neles. Botaram a luva nas mãos, pegaram a pistola e deram um tiro no peito de um dos meninos. O outro tinha tomado um tiro no braço. Arrastaram ele para cima do morro, botaram ele perto do bueiro e deram um tiro na cabeça dele. Quando a gente chegou lá, estava tudo espirrado na parede. Tinha sangue. Muito sangue. Ainda conseguimos encontrar projéteis de bala das armas usadas pelos policiais e um mapa, que estava com eles — contou a testemunha, que, em seguida, exibiu à reportagem de AND os objetos encontrados na cena do crime.
— Você pode ver que o mapa está todo sujo de sangue. Eles já vieram com o mapa. Vieram com a rua onde os meninos estavam marcada já, o que prova o destino dos PMs desde que saíram da base da UPP. Eles mostraram as pistolas falando que era dos meninos, mas os moradores falaram que as pistolas eram deles. Eles estavam com duas pistolas na cintura. Uma de serviço e outra para executar mesmo. Quando eles vieram atirando, o Wallace tentou correr. Aí o chinelo dele arrebentou. Foi na hora que ele caiu. Nessa hora que os moradores falaram que começaram a bater nele. Mas bateram muito nele mesmo. Tanto é que o chinelo está todo sujo de sangue — mostra o jovem.