
Os recentes protestos no Egito já deixaram mais de 100 mortos
Desde o início das agitações populares no Egito que culminaram, em um primeiro momento, na deposição de Hosni Mubarak, velho lacaio do imperialismo, e depois na ascensão ao comando do capitalismo burocrático egípcio da Irmandade Muçulmana, este órgão da imprensa popular e democrática vem ressaltando a importância, e apontando a lacuna no Egito, de lideranças consequentes, revolucionárias, comprometidas com os anseios das classes populares em rebelião e capazes de conduzi-las ao objetivo último das retumbantes mobilizações de massa que se tem visto naquela nação: uma democracia verdadeiramente popular.
A ausência desta liderança no Egito levou a um cenário em que as forças retrógradas daquele Estado cavalgaram a radicalizada e prolongada rebelião popular e promoveram um rearranjo, de braços dados com o oportunismo, das velhas estruturas de poder egípcias, cujo elemento fundamental é a subordinação ao imperialismo ianque e a colaboração com o Estado genocida de Israel, mantidas, sobretudo, pelo financiamento do exército local, espinha dorsal do Estado egípcio, com recursos oriundos diretamente de Washington.
Pois agora, no início de julho, todas as forças antipovo que oprimem as massas trabalhadoras egípcias começaram a promover uma nova rodada de reacomodação entre as forças reacionárias e oportunistas daquela nação, ante o recrudescimento dos protestos de massa nas ruas do Cairo e de outras grandes cidades do país contra a carestia e as deterioradas condições de vida e de trabalho, e na sequência da derrubada, pelos militares, de Mohamed Mursi, que foi alçado "democraticamente" a gerente dos interesses do imperialismo naquela estratégica nação do Norte da África.
Um Nobel da Paz a serviço da reação
Ao contrário do que o monopólio da imprensa tenta fazer crer, a deposição de Mursi pelos militares egípcios e esta segunda rodada de reacomodação não são desdobramentos da dita "revolução" da "primavera árabe" – termos, tanto um quanto outro, usados de maneira perniciosa pelos artífices da contrainformação global — mas sim os desdobramentos dos esforços do imperialismo ianque e das forças antipovo locais ao seu serviço para salvar o capitalismo burocrático egípcio da democracia popular exigida pelas multidões, que chegaram a ser de 17 milhões de pessoas em protestos nas ruas em 30 de junho, aniversário de um ano da "eleição" de Mursi, naquele que já é considerado o maior protesto da história da humanidade.
Em 1 de julho a multidão farta de tanta mentira atacou e incendiou — aqui se diria que "vandalizou" — a sede da Irmandade Muçulmana no Cairo. Oito pessoas morreram e centenas ficaram feridas no episódio.
Acossado pelas massas do Egito, o imperialismo e o exército local convocaram como alternativa para a manutenção do estado das coisas no país Mohamed El Baradei, o egípcio que foi diretor da agência nuclear da ONU e ganhador do prêmio Nobel da Paz em 2005 e que fazia oposição a Mursi.
Massacre de 55 manifestantes em frente a um quartel
Nomeado "primeiro-ministro" três dias após os militares assumiram novamente as rédeas do Estado egípcio, El Baradei, apresentado como "homem íntegro e de fortes convicções democratas", foi depois realocado para o cargo de vice-presidente e responsável pelas relações internacionais do país — em outras palavras, responsável pelos tratos civis com o imperialismo -, abrindo espaço para que o financista Hazem al Beblaui, ex-funcionário da ONU e de instituições financeiras internacionais, assuma o "governo de transição".
Alçando "democratas" e "economistas liberais" ao gerenciamento daquele Estado, o USA e o exército do país africano tentam fazer fumaça à intervenção militar direta na administração do Egito — mais uma — e assim evitar problemas de ordem legal para que o USA siga financiando as Forças Armadas egípcias com cerca de US$ 70 bilhões anuais (só o exército de Israel recebe mais dinheiro de Washington do que os gorilas do Cairo).
Não obstante, o USA já acionou seus países árabes aliados para colaborarem com o exército do Egito. No dia 9 de julho a Arábia Saudita e os Emirados Árabes Unidos anunciaram um aporte de US$ 9 bilhões para as Forças Armadas daquele país.
Enquanto as pessoas de "fortes convicções democratas" atendem a convocatória dos maiores inimigos do povo egípcio para mais uma rodada da reestruturação do capitalismo burocrático local e enquanto o USA arrota "moderação" para seguir sustentando e armando um dos exércitos mais poderosos do mundo, nas ruas do Egito uma feroz repressão aos protestos por uma democracia verdadeiramente popular já deixou mais de 100 mortos e centenas de feridos. Particularmente infame foi o massacre de 55 manifestantes por soldados que abriram fogo contra a multidão que protestava em frente a um complexo militar no Cairo, em 8 de julho.