Em novembro de 2010, A Nova Democracia noticiava em sua edição impressa e em vídeo, na sua página na internet, a resistência dos moradores da favela Vila Taboinha ao ataque dos tratores da prefeitura. Na ocasião, uma ordem de reintegração ameaçava as moradias de duas mil famílias que não se intimidaram e lutaram com coragem para manter suas casas de pé. Um fato curioso foi que, no meio do conflito, conheci o documentarista independente do Canadá, Jason O’hara. Agentes da prefeitura e policiais militares chegaram ao absurdo de impedi-lo de registrar o processo de remoção.
Falei um pouco do trabalho de AND para o Jason — ou Jay, como é conhecido — que, seis meses depois, voltava ao Brasil para fazer a doação de uma câmera profissional, microfones e lentes. Foi o divisor de águas no trabalho audiovisual de AND. Foi a partir daí que começou a diminuir a periodicidade com que os vídeos eram publicados, tal como os recursos técnicos foram aprimorados. Com esse equipamento, foram produzidas reportagens em vídeos sobre a militarização do Complexo do Alemão, os desastres causados pelas chuvas na região serrana do Rio e inúmeras outras matérias.
Nos anos seguintes, nosso amigo canadense voltou ao Rio com novos equipamentos para incrementar nosso arsenal e proporcionar a evolução dos vídeos no blog de AND, que hoje já atingiram a marca de 2,2 milhões de acessos e 10 mil assinantes em nosso canal no You Tube. Com frequência, Jay se sensibiliza com episódios de ataque do Estado reacionário ao povo pobre e vem ao Brasil para filmar, como aconteceu na remoção da Aldeia Maracanã e nos protestos de junho/julho.
Em fevereiro desse ano, Jason veio ao Rio com a proposta de produzir um filme sobre as UPPs — as Unidades de Polícia Pacificadora —, mostrando a realidade do processo de militarização sob a perspectiva de um grupo de músicos: um rapper, um compositor de samba e um guitarrista de uma banda de reggae. Todos foram vítimas de abusos da tal polícia "pacificadora" e aceitaram contar suas histórias para o projeto de Jason. O filme ainda contou com a colaboração do cinegrafista independente Guilherme Chalita, que desde novembro já apoiava A Nova Democracia. Com isso, a equipe estava completa.
Ritmos de Resistênciaé um filme de 29 minutos, focado na vida de músicos e sua resistência frente aos absurdos cometidos por PMs de UPPs contra moradores de favelas; abusos que vão desde prisões arbitrárias até a execução sumária de trabalhadores. Não demorou muito para que Ritmos de Resistência chamasse a atenção da curadoria do Festival do Rio de Cinema — o maior festival de cinema do Brasil, que esse ano acontece de 26 de setembro a 10 de outubro no Rio de Janeiro.
Com direção de Jason O’hara, produção de Patrick Granja e Guilherme Chalita e realização de AND Produções e jornal A Nova Democracia, o filme Ritmos de Resistência será exibido na mostra Limites e Fronteiras, que fala sobre "mudanças, conflitos e revoluções pouco ou nada noticiadas pelo mundo". Nosso filme será exibido junto com o documentário Como chego na linha de frente? A vida de Tim Hetherington, de Sebastian Junger. Abaixo, confira os horários e locais de exibição de Ritmos de Resistência no Festival do Rio de Cinema. Esperamos você lá.
Mostra Limites e Fronteiras
SEX (4/10) 14:00 – Oi Futuro em Ipanema
SAB (5/10) 19:15 – Centro Cultural Justiça Federal 2
TER (8/10) 17:30 – Estação Botafogo 3
QUA (9/10) 13:20 – Estação Vivo Gávea 1
QUA (9/10) 19:40 – Estação Vivo Gávea 1