"Uma Nova Democracia, onde nós fazemos nossas leis"

Camponeses bloquearam rodovia em Jaíba contra ameaças de despejo.
Parte do discurso de um camponês pronunciado durante bloqueio de uma rodovia em Jaíba, Norte de Minas Gerais, contra ameaças de despejo. Na ocasião, os camponeses organizados pela Liga dos Camponeses Pobres (LCP) do Norte de Minas e Sul da Bahia exigiram a realização de uma audiência com representantes do Incra, Iter e Ruralminas em plena estrada interditada. Alguns vereadores e o prefeito de Jaíba também estiveram presentes nesse ato, que foi transformado numa assembleia popular em que os camponeses denunciaram tête-à-tête com os representantes desses órgãos o papel das instituições do velho Estado que atacam e tentam frear a luta pela terra:
"O que a gente tem que pensar é o seguinte:
Nós temos que pensar, companheiros, em um país de novo tipo porque não dá mais para aguentar essa situação.
Porque é que eu falo isso?
Eu estou numa área, companheiros e companheiras, desde 2008. São 35 famílias, pelo crédito fundiário...
Fomos assentados, conseguimos empréstimo, cortamos a área, estamos lá dentro morando.
E hoje o governo e o Incra colocam que essas famílias têm que ser desapropriadas.
Tudo lá é legal, não tem nada ilegal gente!
Dá para acreditar no Estado? Dá para acreditar num negócio desses?
Para que ‘desassentar’ essas famílias e assentar outras? Por que?
Porque foi reconhecido como território quilombola.
Os companheiros quilombolas estão do nosso lado! Gente, nós somos pessoas sem terra do mesmo jeito!
Mas não... tem que sair 35 famílias que estão legalizadas dentro daquela área produzindo. Têm áreas de 12 hectares irrigadas, abastecem o mercado de Varzelândia, São João da Ponte... A gente só não abastece Verdelândia porque não tem acesso, que é muito complicado. Mas se fosse para abastecer nessa área de fruticultura a gente fornecia.
Então vamos pensar em construir um país de novo tipo, uma Nova Democracia, onde nós fazemos nossas leis e nossas leis têm que valer!
Nós somos a maioria, nós não podemos ser reféns de um pequeno grupo que está aí dominando nosso país, gente!
Nós somos capazes de mover montanhas, companheiros!
Eu queria deixar minha mensagem e inclusive não vou pedir nada para ele aqui (aponta para o representante do Incra), porque ele não vai saber responder! Não vou pedir nada, porque tenho certeza de que ele não vai ter resposta para isso.
Então nós determinamos: Vamos ficar e não vamos sair!