A presidente da República mantém a tradição de muitos predecessores, com discursos aparentemente nacionalistas, enquanto diariamente trata a soberania e o desenvolvimento do País como coisas descartáveis.
2Ela denunciou o que foi mostrado por Assange e, depois, por Snowden e Greenwald: o governo dos EUA, suas agências e empresas apropriam-se de informações econômicas, estratégicas e até das pessoas físicas de todos os países sem meios de impedi-lo.
3 A presidente disse que fará proposta para estabelecer um marco civil multilateral para a governança e uso da internet, em nível mundial, visando a "efetiva proteção dos dados". Essa proposta não tem chance alguma de ser adotada, mesmo porque os EUA não aceitam regras internacionais que se sobreponham às leis deles.
4 O jornalista Fernando Rodrigues foi ao ponto: "Dilma faria melhor se buscasse equipar o Brasil contra ataques cibernéticos. A presidente faz o oposto. Engavetou um projeto de Política Nacional de Inteligência que cria diretrizes para o Estado brasileiro se prevenir de ações de espionagem. O texto está pronto e parado, no Planalto, desde novembro de 2010."
5 Em ótimo artigo, "O Discurso e a Prática", Paulo Passarinho, âncora do Faixa Livre da Rádio Bandeirante, recorda ter Assange apontado que China, Inglaterra, França, Alemanha e Rússia, entre outros, têm investido pesadamente nessa área estratégica e defende que o Brasil adote sistema de criptografia de tecnologia nacional.
6 Passarinho comenta: "Mas nossa realidade está muito distante dessa possibilidade. Graça Foster, a presidente da Petrobrás, por exemplo, declarou que a criptografia usada na empresa é de empresas americanas, porque não existem companhias brasileiras que prestem esse tipo de serviço. Snowden denunciou que a criptografia fornecida por empresas privadas norte-americanas é propositalmente falha e têm as chamadas "portas dos fundos", para que a NSA possa driblar seus códigos e acessar os dados."
7 Pior: após o discurso no palco da ONU, Dilma dirigiu-se a executivos de 300 grandes bancos e empresas transnacionais, em seminário sobre oportunidades de investimento no Brasil, promovido pelo Goldman Sachs, banco líder da oligarquia financeira.
8 Pediu mais investimentos estrangeiros no petróleo e no programa de privatizações de portos, aeroportos, rodovias, ferrovias etc. Deseja, inclusive, "a capacidade de gestão" dos estrangeiros.
9 Diz Passarinho: "O show de subserviência aos gringos foi total. Lembrou que "risco jurídico no Brasil não existe", procurando destacar que ‘se tem um país que respeita contratos é o Brasil. E disso nos orgulhamos’. É evidente que a presidente não se referia à Constituição, diariamente desrespeitada, especialmente no que tange aos direitos fundamentais dos brasileiros, por exemplo, aos direitos sociais."
10 Faz tempo que Dilma cede aos carteis mundiais. Consolidou a destruição do Estado, intensificada a partir de Collor, conforme o modelo imposto pelos saqueadores: o Estado desmonta suas estruturas, sucateia sua experiência administrativa e afasta seus quadros competentes.