Soa ridículo, para qualquer pessoa que tenha o mínimo de bom senso e contato com a realidade viva dos fatos, a forma pejorativa com que o monopólio da imprensa trata as manifestações populares. O discurso surrado de que "quem não deve não teme" só pode mesmo sair da boca de quem não participa das mobilizações ou de quem busca legitimar a ação repressiva do Estado. Fora disso, não tem o menor cabimento falar em "mascarados", enquanto a PM tortura e assassina incontáveis Amarildos!
No editorial A juventude se levanta e toda a canalha treme da já histórica edição 112 de AND, esta questão é colocada de maneira bastante objetiva. Os fatos confirmam o princípio então enunciado de que muitos daqueles que eram ardorosos defensores do pacifismo aprenderiam pela própria experiência a necessidade da autodefesa para exercerem seu direito de lutar por transformações sociais.
É evidente que num país onde as manifestações são tratadas como caso de polícia e as prisões políticas se generalizam, cobrir o rosto tenha se tornado imperativo para aqueles que persistem no caminho da luta. Se os manifestantes estão mascarados é necessário deixar claro que o fazem pela necessidade do anonimato imposto pela própria falta de democracia, esta sim mascarada por conveniência.
Justiça seja feita: é necessário registrar a existência de mais duas personagens "esquecidas" pela imprensa venal no conturbado cenário político do país, tratam-se dos "descarados" e dos "desmascarados".