Enquanto a maioria dos presos políticos já voltou às ruas, os jovens Jair Seixas Rodrigues (Baiano) e Rafael Braga Vieira permanecem presos. Fora do cárcere, manifestantes permanecem nas ruas, agora com uma nova bandeira: a libertação imediata de todos os presos políticos. Na tarde do dia 31 de outubro, cerca de cinco mil pessoas participaram do ato Grito da Liberdade, no Centro do Rio de Janeiro. A manifestação percorreu as ruas do Centro exigindo a libertação imediata dos presos políticos ainda encarcerados e um basta à criminalização dos movimentos populares e à violência policial nas favelas.
Participaram do protesto presos políticos de várias gerações, como a jovem Sininho e o ex-preso político do regime militar, José Maria Galliassi de Oliveira, um dos fundadores do jornal A Nova Democracia. Centenas de policiais fardados e à paisana acompanharam o ato do início ao fim, enquanto das janelas, trabalhadores saudavam o movimento. Na Avenida Rio Branco, manifestantes usaram panos pretos como mordaças e fizeram o trajeto entre a igreja da Candelária e a Cinelândia em silêncio, acompanhados apenas pelo som de um tambor. A manifestação novamente tomou as escadarias da Câmara Municipal e palavras de ordem foram ouvidas, como “Eleição é farsa! Não muda nada não! O povo organizado vai fazer revolução!”.
— Estamos aqui pela resistência, pela libertação dos presos políticos. Onde já se viu? Um coronel da PM ser agredido e o agressor ser preso por tentativa de homicídio e um policial mata uma pessoa com um tiro e é liberado depois de alegar que foi acidental. Em que país que agente vive? Vá às escolas e aos hospitais para ver o que é vandalismo. Nós nunca batemos em professores, não somos nós que temos balas de borracha e bombas — disse um manifestante.

Foto: ABR, Grito da Liberdade, Fernando Frazão.
— Eu quero falar! Eu quero me expressar! Eu quero cultura! Quero dizer o que penso — gritava um ator enquanto fazia uma performance simulando estar algemado e deitado no chão.
A manifestação terminou no bairro da Lapa, onde manifestantes amarraram faixas aos arcos da Lapa exigindo a libertação de todos os presos políticos. Indígenas também estenderam cartazes em defesa de sua causa. Enquanto isso, um helicóptero fazia voos rasantes para intimidar os manifestantes, o tempo todo observados de longe por centenas de policiais da tropa de choque da PM.
No dia 6 de novembro, os militantes que preferiram se identificar como Elson e “Game Over” se acorrentaram a dois postes em frente à Câmara de Vereadores do Rio e entraram em greve de fome. Centenas de pessoas todos os dias passam pelo local com flores, mensagens de apoio e outros gestos de incentivo. Até o fechamento dessa edição, os jovens ainda sustentavam a greve de fome até que todos os presos políticos sejam libertados.
— Isso é um ato político pela libertação dos nossos companheiros que continuam em Bangu. A verdade é que todos nós estamos presos. Todos os brasileiros são presos políticos. Eu estou acorrentado aqui porque esse é o meu sentimento. Quem sabe essa nossa iniciativa não faz com que as pessoas abram um pouco a cabeça, nos vendo aqui todos os dias, ouvindo as palavras de ordem e enxergando a nossa fome como a fome e o medo de milhões de brasileiros — diz o ativista “Game Over”, que terminou afirmando que, apesar do seu apelido, a greve de fome não terá game over (fim do jogo) enquanto Rafael e Jair Seixas não forem libertados.