A greve da PM abalou Pernambuco, não por sua extensão ou radicalidade, mas pela resposta popular à ausência de “autoridade”. Na quarta-feira, 14 de maio, após um protesto contra mais uma morte, por atropelamento, na BR-101 norte, populares saquearam as grandes lojas no centro de Abreu e Lima. No dia seguinte, as cenas de saque se repetiram nas periferias da cidade. Mesmo depois do fim da greve dos policiais, lojas foram arrombadas em São Lourenço da Mata, “a cidade da Copa”.
Os jornais impressos e televisivos, dos monopólios de comunicação, foram unânimes em seus adjetivos: “criminosos”, “vândalos”, “vergonha”. Cobram a punição exemplar e rigorosa dos “saqueadores”, exigem a recuperação das mercadorias “roubadas”, cobram apoio do governo aos comerciantes prejudicados. Cumprem o papel da imprensa burguesa e defendem com firmeza os interesses de seus maiores anunciantes: Eletroshopping, Bom Preço e Insinuante.
Por traz do discurso moralizante, envergonhado, que destaca a cena de uma mãe que devolve o pertence saqueado pelo filho, está a intenção de apresentar o povo como bandido. Esta imprensa faz isto todo dia, do Jornal “Nacional” aos Cardinots da vida, são os mesmos que chamam a juventude combatente de vândala e baderneira.
No twitter da Rocam, ao anunciar o fim da greve, postou: “quem roubou, roubou, quem não roubou não rouba mais”. Grande mentira, no Brasil se rouba todo dia, o imperialismo saqueia nossas riquezas, a burguesia assalta a classe operária e o latifúndio assassina os camponeses, e tudo isto com a proteção da polícia. Chamam o povo de covarde por só saquearem em dia de greve, covardes são eles que para seguir espoliando o nosso povo precisam, cada vez mais, da proteção policial.
O povo não deve envergonhar-se. Ainda está presente em nossa memória os saques dos sertanejos, nos períodos de seca, quando o povo abandonava seus cantos para requisitar do comércio o necessário para viver. “Mas não existe fome na região metropolitana”, contestará alguém. Ledo engano, passa-se fome sim nas cidades brasileiras. Uma grande parte de nossa população não se alimenta direito, até o feijão está faltando a mesa. Ou para utilizar o exemplo do grande cientista Josué de Castro que dizia que a fome no sertão é epidêmica (episódica) e na zona da mata é endêmica (cotidiana).