No cenário atual da geopolítica, ou seja, da política do imperialismo - as estratégias de dominação, os movimentos de distensão e recrudescimento das contradições entre os blocos de poder atirados à disputa por novos mercados e fontes de matérias-primas para os seus monopólios, as negociações diplomáticas entre as potências concorrentes e no âmbito das Nações Unidas - neste desenho, salta aos olhos a guerra civil instaurada em diferentes níveis de violência e barbárie na Ucrânia, na Líbia e na Síria, justamente países onde ora se encontram mais agudizadas as tensões decorrentes da contenda-chave da corrida pela repartilha do mundo entre as potências capitalistas: o USA com sua estratégia de dominação global versus a Rússia de pretensões imperialistas, única nação com poderio militar suficiente para criar problemas à empreitada ianque.
Em outras nações, como Irã ou Coreia do Norte, o imperialismo ianque ainda não se arrisca na aventura de uma intervenção mais direta, dada capacidade de uma resposta atômica destas nações do assim chamado “eixo do mal” pela doutrina Bush, ficando o USA na esfera da sabotagem via CIA e na pressão diplomática pelo isolamento internacional via ONU - pressão calcada sobretudo na demagogia nuclear (“eu posso ter bomba; você, não”).
Há um país em particular onde o USA mantinha até há pouco controle quase absoluto - controle cultivado ao longo de décadas de ingerência e “ajuda” militar -, mas que agora, quando menos se esperava, dá sinais de que pode ter que ser disputado com o imperialismo russo nos mesmos “termos”, por assim dizer, que a Síria e a Líbia. Trata-se do Egito.
Há três anos, milhões de egípcios ocuparam as ruas do Cairo por uma democracia popular e pelo fim do gerenciamento Mubarak. O antigo “ditador” foi derrubado, mas os engendros políticos que se seguiram aos ápices dos vigorosos protestos com epicentro na praça Tahrir e o consequente fim do antigo gerenciamento títere do imperialismo ianque foram de vários e consecutivos rearranjos das forças reacionárias, sob os olhos e pela mão do poderoso exército local e sempre com o USA interferindo para que a revolta popular terminasse cavalgada pelos cavaleiros do oportunismo e, assim, apenas em uma reestruturação do capitalismo burocrático local.
Ao longo deste tempo houve muitas idas e vindas desta reestruturação, com direito a “governo provisório” de uma junta militar e um breve gerenciamento da Irmandade Muçulmana, que terminou destituído pelo exército ao não conseguir “estabilizar” o país para o imperialismo, com direito à inclusão da famigerada irmandade na categoria de “grupo terrorista”. O mais recente capítulo deste grande esforço para manter o Egito longe de uma democracia verdadeira e perto do imperialismo foi a farsa eleitoral levada a cabo em maio deste ano, da qual saiu “vitorioso” o general Abdel Fatah al-Sisi, chefe do exército do país, em um sufrágio do qual participaram menos da metade dos egípcios aptos a votar.