Notícia recente baseia-se em levantamento da consultoria espanhola Transactional Track Record (TTR), conforme o qual, até agosto deste ano, R$ 14 bilhões foram injetados em companhias brasileiras pelos fundos de ações.
2 Essa quantia equivale ao total de 2013. Segundo a mesma fonte, mais R$ 14 bilhões estão no caixa desses fundos para aplicar, e a norte-americana Advent finaliza a captação de um fundo de US$ 2 bilhões. Outra americana, a Carlyle - que aplicou em fatias de firmas como RiHappy e Tok&Stok por meio de fundo levantado em 2010 -, está captando cerca de R$ 1 bilhão no país.
3 O Gávea Investimentos, criado pelo ex-presidente do Banco Central Arminio Fraga, e controlado pelo JP Morgan, conclui a captação de um fundo de US$ 1,1 bilhão. Em agosto, o Pátria - no qual a gigante americana Blackstone detém 40% - anunciou novo fundo de US$ 1,8 bilhão. A expectativa é que BTG e Vinci Partners também levantem recursos no fim do ano.
4 Esses dados significam crescente controle da intermediação financeira por bancos e fundos transnacionais, além do óbvio incremento da participação do capital estrangeiro em empresas privadas nacionais ou estatais, o que, por sua vez, importa em maior influência nessas empresas e na eventual aquisição do controle de muitas delas.
5 Os investimentos em carteira (ICs), rubrica que engloba as aplicações em ações e também as em títulos de renda fixa, acumularam, de janeiro a julho de 2014, entradas líquidas de US$ 24,8 bilhões, apesar de saídas líquidas de US$ 2,5 bilhões em julho. Nesse período de 2013, o total fora US$ 15,9 bilhões.
6 Até o final de 2014, é provável, pois, que esse montante suba para em torno de US$ 35 bilhões, o que, somado a investimentos estrangeiros diretos (IEDs) da ordem de US$ 60 bilhões, mantém o nível de 2013.
7 Os investimentos estrangeiros no Brasil continuam atingindo quantias anuais elevadíssimas, da ordem de 5% do PIB, haja vista os totais dos últimos quatro anos, para, respectivamente, IEDs e ICs, seguidas da soma de ambos, em bilhões de dólares: 2010: 48,5 + 48,6 = 95,1; 2011: 66,7 + 18,5 = 85,2; 2012: 66,3 + 16,5 = 81,8; 2013: 64,0 + 34,7 = 98,7. (Dados do Ministério da Fazenda)
8 Essas quantias têm sido suficientes para “equilibrar” o balanço de pagamentos, em face dos déficits nas transações correntes (TCs) com o exterior, resultado de exportações menos importações de bens e serviços.
9 De fato, o Brasil extrai e exporta (nem estou mencionando o descaminho via fronteiras mal controladas) recursos naturais de forma intensa e crescente, e paga por bens e serviços importados de alto valor agregado e, em geral, superfaturados.
10 Isso gera os déficits nas transações correntes (TCs). Após crescer contínua e aceleradamente desde 2007, o déficit de conta corrente foi de US$ 81,4 bilhões em 2013, e se mantém nesse nível, que é só um pouco inferior à atual entrada de capitais estrangeiros.
11 Ora, esses capitais agravam as deficiências estruturais da economia brasileira, a qual, fraca, devido à desnacionalização, ficou adicta à droga que produz essa fraqueza.