
Vitorioso Encontro da LCP confirmou: a bandeira da Revolução Agrária está fincada no Sul do Pará e Tocantins!
No pequeno vilarejo do Batista, município de Santa Maria das Barreiras, Sul do Pará, foi realizado, nos últimos dias 08 e 09 de novembro, o 3º Encontro de Lideranças da Liga dos Camponeses Pobres do Pará e Tocantins. Pelo menos 120 camponeses e camponesas vindos de Conceição do Araguaia, Redenção, Santana do Araguaia, Santa Maria das Barreiras, Floresta do Araguaia e também dos vilarejos Novo Horizonte, São Jacinto, Nova Esperança (“Sariema”) e Chapada Vermelha se reuniram para fazer um balanço das lutas recentes.
O Encontro da Liga havia sido boicotado. A diretora da escola local, depois de acertar o empréstimo das instalações para a reunião, cozinha e alojamento, pressionada por um vereador local, voltou atrás. Boatos se espalharam de que haveria quebradeira. Alguns até mesmo não foram trabalhar no final de semana com medo. Afinal, há poucos dias, a DECA (tropa da PM especial para conflitos agrários) fez uma operação para desarmar os camponeses que lutam pelas terras devolutas da fazenda Cipó (localizada entre as vilas do Batista e Novo Horizonte) coincidentemente um dia antes de pistoleiros e latifundiários atirarem e atearem fogo em alguns barracos dos camponeses. Mas pequenos comerciantes e representantes de associações locais tomaram a frente e ajeitaram tudo para o encontro acontecer.
E que encontro!
Os camponeses chegavam, empilhavam suas ‘borocas’ (sacolas) por região de origem e logo se dividiam para dar conta da limpeza, alimentação, decoração do local com faixas e cartazes, e também para organizar a segurança. Moradores do local cediam seus banheiros e ofereciam água gelada para os participantes. Muitos colocaram suas casas à disposição para companheiros que tinham problemas de saúde. A grande maioria armou sua rede no galpão onde foi realizado o encontro ou na cozinha.
Logo na abertura foi feita a homenagem aos companheiros Cleomar Rodrigues de Almeida, dirigente nacional e coordenador da LCP do Norte de Minas e Sul da Bahia, e Luiz Lopes, também dirigente nacional e coordenador da LCP do Pará e Tocantins, ambos assassinados pelo latifúndio. Foi emocionante! As fotos dos companheiros passavam de mão em mão, e todos pegavam para levar para sua região o boletim da Comissão Nacional das Ligas que contava a vida e a luta de Cleomar.
Cantado o Conquistar a Terra, hino do movimento camponês combativo, os representantes das áreas participantes logo tomaram a palavra e as denúncias contundentes e profundas revelavam de forma cristalina a realidade brasileira, uma realidade escondida a ferro e a fogo, que nem sequer foi tangenciada pelos candidatos durante a recente farsa eleitoral.
De Santana do Araguaia, os representantes das 330 famílias que lutam por terras devolutas no Acampamento Ouro Verde relataram como entraram na terra, produziram e como foram retirados em uma ação violenta de reintegração de posse ilegal, pois as áreas em que eles estavam ficavam fora do perímetro do papelucho assinado pelo juiz; de como os grileiros eram articulados com o vice-prefeito e o presidente da OAB de Redenção; contaram também a história da terra, antes utilizada por madeireira e agora para plantio de soja; e as denúncias eram tão ricas e documentadas que nossa reportagem vai fazer uma matéria sobre os fatos, mas por hora cumpre ressaltar como os camponeses da Ouro Verde se referiam à alegria de, enfim, terem encontrado a Liga. Eles haviam participado da ocupação de 17 dias no Incra e do fechamento por 12 horas de estrada em Conceição do Araguaia, e decidiram por se juntar à LCP.
De Conceição do Araguaia, os camponeses relatavam a luta contra o Incra e a mineração de níquel que ameaça os camponeses que lutam pelas terras já cortadas e entregues pelo Corte Popular da Área Gabriel Pimenta (Jacutinga, Talismã e Capivara); os relatos e fotos de produção lembravam a luta dos camponeses das áreas Canaã e Raio do Sol, em Ariquemes, Rondônia.
Da Batente, primeira área conquistada pela Liga na região — onde o companheiro Luiz Lopes, assassinado por pistoleiros em 15 de junho de 2009, dirigiu a luta —, companheiros pediam apoio para obrigar o Incra a enfim liberar créditos que já estariam depositados, bem como saudavam a luta conjunta da LCP e o Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Conceição do Araguaia.
Alguns companheiros das vilas saudaram a direção da Liga pela conquista da energia, denunciaram que estão sendo empurrados das terras onde trabalham pela soja e indicavam áreas que deveriam ser tomadas.
De Redenção, companheiros relatavam a luta por moradia e a importância da resistência das famílias que estão acampadas na entrada da Forkilha, onde, no dia 19/11/2007, foi levada à cabo a “Operação Terror no Campo”, importante acontecimento que também será motivo de mais uma reportagem do AND, único jornal que divulgou a verdade dos fatos desde então.
Outra luta importante foi travada pelos companheiros que exigem que o Instituto de Terras do Pará (Iterpa) definitivamente pare de postergar a expulsão dos latifundiários grileiros que se apropriaram da Cipó e da Buritis, e também a luta para que alguns companheiros assumam seus lotes, já definidos e divididos pelo Corte Popular.
Ao final do Encontro, além de muitas propostas agendadas de lutas e cobranças do Estado, ficou decidida uma distribuição de panfletos para o povoado das vilas denunciando o que está por trás das propostas aparentemente vantajosas da soja. Também foi marcado um ato para o dia 19 de novembro, dia do “Terror no Campo”. Mais de 15 companheiros e companheiras, durante a sessão de balanço em que todos os participantes falaram, afirmaram sua disposição em participar da próxima direção da Liga que será eleita no próximo ano.
O encontro foi encerrado com o canto de A Internacional, hino dos trabalhadores de todo mundo, e palavras de ordem. À citação dos nomes de Cleomar e Luiz Lopes, todos respondiam com os punhos cerrados: “Presente na Luta!”
Redes guardadas nas borocas, últimos acertos, sorrisos, cumprimentos, alegria, decisão, a luta por uma carona... Avança a Revolução Agrária! E os companheiros da LCP nos contaram que o Encontro foi todo bancado pelos próprios participantes. Cleomar vive! Luiz Lopes vive! Renato Nathan vive!