Foi preciso que o USA acusasse o próprio USA para que o monopólio internacional da imprensa burguesa noticiasse o que há muito já se sabia como se fosse uma escandalosa novidade. No último dia 9 de dezembro, o Senado ianque publicou um relatório pormenorizado sobre as práticas de tortura em prisões secretas por parte da agência de espionagem e sabotagem internacional, a CIA, no âmbito da “Guerra Contra o Terror”, e que o “pai” desta guerra, o ex-chefe imperialista, George W. Bush, sabia das atrocidades físicas e psicológicas praticadas mundo afora.
A “novidade” de fato, ou melhor, a diferença entre o relatório do USA acusando o USA e tudo o que já se falou e foi denunciado nesta matéria é que o documento do Comitê de Inteligência do Senado ianque garante, na sua página de número 40, que ao ser informado sobre as torturas da CIA, o que teria acontecido precisamente no dia 8 de abril de 2006, Bush ficou horrorizado com “a imagem de um preso acorrentado ao teto usando uma fralda, obrigado a fazer suas necessidades nela”.
Além de cultivar a fantasia de que em um belo dia o chefe maior do imperialismo mais feroz do mundo abriu uma pasta e foi surpreendido com informações sobre torturas levadas a cabo em nome dos esforços de dominação global movidos pelo USA no pós-11 de setembro — e, pior, que teria se escandalizado com a “notícia” —, o relatório induz à suposição de que prisões secretas e torturas são coisas do passado (na introdução do documento se diz que os presos da CIA “foram” torturados), até que daqui a alguns anos surja um novo relatório dizendo que Obama viu o chão da Casa Branca se abrir sob seus pés ao descobrir que nem só do marketing da “exportação da democracia” se faz um Novo Oriente Médio...
Segundo o relatório do Senado ianque, o chamado “Programa de Detenção e Interrogatório da CIA”, com suas “técnicas de interrogatório agressivas” — torturas — terminou em 2008. E aqui talvez resida a principal função política destas “denúncias”: alimentar a fantasia de que com Obama o imperialismo é mais ameno. E mais: o relatório confirma a morte de uma — apenas uma! — pessoa nas prisões secretas da CIA.