
Uma das casas removidas às vésperas do natal
A Santo Antônio Energia executou a remoção de famílias que moram em Jaci Paraná, Rondônia, às vésperas do natal de 2014.
“Velha Jaci”, como chamam os moradores do distrito, é um dos bairros mais antigos da comunidade onde existem famílias que permanecem há gerações e onde pode ser encontrado um relevante patrimônio histórico-cultural do período da Estrada de Ferro Madeira Mamoré, como antigas construções, resquícios da ferrovia e uma igreja centenária. Apesar do valor imaterial e da identidade, há famílias recebendo “ofertas” de 30 a 40 mil reais para sair às pressas de suas casas, de forma que os próprios deslocados devem desmontá-las — maneira mais sutil que os tratores usados para demolição em outros momentos ou as casas queimadas na cachoeira de Santo Antônio.
Milhares de famílias são diretamente atingidas pelo impacto social e ambiental provocado pelas usinas hidrelétricas de Jirau e Santo Antônio. O desbarrancamento provocado pelas águas do rio Madeira já arruinou vilas, destruiu casas e comércios. O Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB) denuncia que “ainda no período de 2010, o número de atingidos extrapolava o que apresentavam os estudos presentes no licenciamento ambiental. Em 2014, o Ministério Público do Estado de Rondônia, Defensoria Pública do Estado de Rondônia, da União e Ordem dos Advogados do Brasil impetraram Ação Civil Púbica para a realização de novos estudos de impacto socioambiental na implantação de Santo Antônio e Jirau”.
“O estado de calamidade instalado devido às grandes enchentes em 2014 que atingiram milhares de famílias, as manifestações dos desabrigados nas ruas e o debate acadêmico sobre a “insegurança” relativo aos estudos oficiais, criaram ambiente favorável para deferimento da Ação Civil Pública e a indicação de nova comissão de especialistas para coordenar a reavaliação dos impactos das usinas do Madeira. Mas quase é 2015, e, enquanto o juiz federal Herculano Nacif não dá andamento ao processo, em Jaci Paraná alguns esperam temerosos uma próxima enchente, enquanto outros devem sair de seus lares, marcados em ‘X’ preto. Os moradores não sabem o que o ‘X’ significa, nem que foi uma empresa contratada pelo município de Porto Velho para levantar as áreas atingidas e em risco devido à cheia de 2014, nem porque algumas casas atingidas não foram marcadas” [fonte: FELIZ NATAL? Santo Antônio remove mais famílias de suas casas em Jaci Paraná, mabnacional.org.br, 28/12/2014].