“Têm-nos censurado, a nós, comunistas, de que quereríamos abolir a propriedade adquirida pessoalmente, fruto do trabalho próprio — a propriedade que formaria a base de toda a liberdade, atividade e autonomia pessoais.
Propriedade fruto do trabalho, conseguida, ganha pelo próprio! Falais da propriedade pequeno-burguesa, pequeno-camponesa, que precedeu a propriedade burguesa? Não precisamos de a abolir, o desenvolvimento da indústria aboliu-a e abole-a diariamente.
Ou falais da moderna propriedade privada burguesa?
Mas será que o trabalho assalariado, o trabalho do proletário, lhe cria propriedade? De modo nenhum. Cria o capital, a propriedade que explora o trabalho assalariado, que só pode multiplicar-se na condição de gerar novo trabalho assalariado para de novo o explorar. A propriedade, na sua figura hodierna, move-se na oposição de capital e trabalho assalariado. Consideremos ambos os lados desta oposição.
(...)
Horrorizais-vos por querermos suprimir a propriedade privada. Mas na vossa sociedade existente, a propriedade privada está suprimida para nove décimos dos seus membros; ela existe precisamente pelo fato de não existir para nove décimos. Censurais-nos, portanto, por querermos suprimir uma propriedade que pressupõe como condição necessária que a imensa maioria da sociedade não possua propriedade.”
Manifesto do Partido Comunista (Karl Marx e Friedrich Engels).
E mais uma vez os fatos confirmam os apontamentos de Marx e Engels. Estudos recentes da ONG britânica Oxfam e do banco suíço Credit Suisse Research revelam que os 1% mais ricos do planeta estão muito próximos de aquinhoar mais de 50% das riquezas do mundo.
Segundo os estudos, a desigualdade de renda tem crescido a passos largos e de forma alarmante. Em 2014, apenas 80 pessoas passaram a deter riqueza correspondente a de metade da população mundial, ou 3,5 bilhões de pessoas. Os dados mostram um aumento da desigualdade, já que em 2013 eram 85 bilionários e em 2009 eram 388.
No mesmo diapasão, a parcela de riqueza do seletíssimo grupo dos mais ricos do planeta está crescendo também. Se, em 2009, os 388 mais ricos detinham 44% das riquezas globais, hoje os 80 mais ricos detêm 48% e a expectativa é que, a partir de 2016, o acúmulo chegue a mais de 50%.
O grosso da riqueza mundial está nas mãos de 20% da população que detêm 94,5%. Dessa parcela, 87% está nas mãos dos 10% mais ricos. E, enquanto isso, no outro extremo da pirâmide, os outros 80% da população mundial compartilham apenas os 5,5% restantes. É esse o quadro catastrófico do capitalismo no século XXI.
Os dados ficam ainda mais chocantes quando nos debruçamos sobre os valores mensais de arrecadação equivalentes aos estratos sociais. Para pertencer aos 1% mais ricos é necessário receber ao mês US$ 798 mil (R$2,23 milhões); e cerca de US$77 mil (R$215,6 mil) para pertencer aos 10% mais ricos. Para pertencer aos 50% mais ricos, a pessoa precisa receber apenas US$ 3,65 mil, o que equivale a pouco mais de R$10.000,00. Digo apenas dez mil reais, pois é um valor normal para os salários de muitos funcionários públicos do país, por exemplo, e que, mesmo estando entre os 50% mais ricos, não vivem em situação luxuosa. Isso só demonstra, de um lado, o fosso gigantesco que separa os verdadeiros donos do planeta que são os bilionários mais ricos do mundo e o restante da população e, noutro giro, a situação de extrema pobreza da maioria esmagadora do povo que não recebe o mínimo para sobreviver.
Nesse diapasão, conforme as previsões da ONU para o ano de 2015, um sexto da população mundial (um bilhão de pessoas) vive em situação de extrema pobreza por receber menos de US$1,25 por dia (equivalente a R$105,00 por mês); outra parcela, de aproximadamente um bilhão e duzentos milhões de pessoas, vive em situação de pobreza moderada, recebendo entre U$1,25 e US$2,00 por dia (equivalente a R$168,00 mensal). Portanto, segundo os dados oficias, que pela generalidade e extenso campo de observação não podem abordar a fundo a real situação, cerca de 1/3 da humanidade vive em situação de pobreza. A maior parte dos pobres se encontra na África Subsaariana, Sul da Ásia e América Latina.