
Havaianos protestam contra ocupação ianque
Em maio de 2013, o “presidente” de Myanmar — antiga Birmânia —, Thein Sein, esteve em Washington para fazer negócios com o imperialismo ianque. Obama, que o recebeu pessoalmente, fez cumprir a cartilha da geopolítica em se tratando de entendimentos que precisam ser feitos com gerentes semicoloniais com a veia autoritária mais saltante, a cartilha da hipocrisia:
“A deslocação das populações, a violência contra elas, precisa parar e nós estamos prontos para trabalhar, de todas as formas que pudermos, com o governo de Myanmar e com a comunidade internacional, para garantir a ajuda que as pessoas precisam, mas, mais importante, para garantir que os seus direitos e dignidade sejam definitivamente reconhecidos”, disse Obama na ocasião.
Hoje, dois anos depois, mais precisamente no último 8 de maio, havia nada menos que oito mil birmaneses à deriva no oceano Índico, segundo o Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados, fugidos da perseguição político-religiosa em Myanmar ou de campos de refugiados no Bangladesh e tentando entrar na Malásia ou na Indonésia, cujos gerenciamentos, àquela altura, já haviam comunicado que não aceitariam mais desembarques de pobres diabos que integram o maior êxodo humano naquela região desde a Guerra do Vietnã. O gerenciamento do senhor Thein Sein, por sua vez, avisou dias depois que não aceitará o retorno deles a Myanmar.
Migrantes resgatados por pescadores indonésios relataram à emissora britânica BBC que mais de cem pessoas do barco em que estavam morreram esfaqueadas, enforcadas, espancadas até a morte ou atiradas ao mar por causa de brigas por comida após semanas à deriva no Índico.
Na Europa, ao passo que a crise geral se agrava, que o fascismo mais escancarado vai infestando as instituições “democráticas” do continente (ver nesta edição de AND) e que não param de chegar informações de mais e mais barcos lotados de africanos e asiáticos desembarcando imigrantes, sobretudo na costa da Itália, a União Europeia se esmera na montagem de uma autêntica campanha militar contra o que seus cabeças consideram uma invasão, indo além da criminalização de imigrantes “ilegais”, transformando-os mesmo em inimigos, ou “ameaças”.
Foi claramente neste sentido a declaração do chefe, ou melhor, do “secretário-geral” da Otan, Jens Stoltenberg, valendo-se do álibi sempre à mão do “terrorismo” para preconizar novas barbaridades cometidas em nome da “segurança”:
“Um dos problemas é que pode haver combatentes estrangeiros. Pode haver terroristas tentando se esconder, se infiltrar entre os migrantes”, disse Stoltenberg, ajudando a pavimentar o caminho para a entrada em ação da aliança militar transatlântica para mitigar, via bombardeios, a “crise migratória” no Mediterrâneo.

O "presidente" lacaio Thein Sein e seu chefe Barack Obama
Cabe lembrar que há alguns anos, na sua cúpula em Bucareste, em 2009, a Otan atribuiu a si própria a “missão” de “provedora de segurança claramente mais eficaz em um mundo cada vez mais globalizado e perigoso”.
O monopólio internacional da imprensa vem usando o gracejo “pingue-pongue humano” para se referir à recusa de “governos” em permitir o desembarque ou a permanência dos refugiados, ou mesmo à negativa de seus próprios países de origem em recebê-los de volta, como é o caso de Myanmar.
A União Europeia — este “bloco” criado sob a cortina de fumaça de mistificações como a “hospitalidade” e o “multiculturalismo”, mas de fato um grande artifício do capital monopolista do “velho continente” para incrementar e azeitar a dominação das nações centrais do imperialismo europeu sobre os elos mais fracos do bloco, bem como para estender a mais distantes latitudes e longitudes a jurisdição de suas “fronteiras externas” — está prestes a incrementar e azeitar também sua participação neste “pingue-pongue” humano, tendo em vista que um dos temas da reunião do Conselho de Ministros da UE realizada no último 18 de maio para discutir a “crise migratória” foi justamente o reforço das operações de “interceptação, apreensão e desvio” de embarcações de migrantes que naveguem rumo à Europa.
A especificidade aqui é que a Europa, a Europa do capital monopolista — o imperialismo europeu — joga “pingue-pongue humano” com ela própria, tendo em vista que no outro lado da rede, ou da mesa, é a face da miséria e da guerra frutos do colonialismo europeu que os deserdados da terra vão encontrar quando forem mandados de volta para seus países criados pelo esquadro das potências europeias e por elas rapinados pelas décadas e séculos.