
Camelôs foram forçados a fechar seus boxes na Travessa do Liceu por ordem da prefeitura
No final de julho, a equipe de reportagem de AND esteve na Praça Mauá, Centro do Rio, onde 40 camelôs que trabalham na Travessa do Liceu estão sendo ameaçados de despejo pela prefeitura. A maioria dos comerciantes que atua no local mora no bairro e não aceita a proposta apresentada pelo gerenciamento Eduardo Paes de realocação nas proximidades da Rodoviária Novo Rio. Muitos dos trabalhadores vendem seus produtos há quatro décadas na Travessa do Liceu em pequenos boxes de ferro.
Todos os comerciantes estão em situação legal e, segundo eles, o despejo faz parte do cronograma de obras do 'Porto Maravilha' — mais uma etapa do processo de gentrificação no Rio de Janeiro. Nossa equipe conversou com os trabalhadores, muitos deles idosos, e também com moradores do local. Todas as pessoas entrevistadas por nossa reportagem foram unânimes em afirmar a importância do comércio da Travessa do Liceu para a tradicional região da Praça Mauá.
— Essa barraquinha é a minha vida, de onde eu tiro o sustento de toda a minha família, minha esposa e meus três filhos. Eles [prefeitura] em momento algum vieram aqui conversar com a gente. Simplesmente chegaram e disseram que a nossa licença não vale mais nada e que a gente tem 48 horas para sair. Somos 40 famílias que vamos entrar para a estatística do desemprego no Brasil — afirma o comerciante Ulisses Alves.
— A minha loja é conhecida no mundo todo, porque eu vendo souvenir para turistas que passam pela Praça Mauá. Se tirarem a gente daqui, esse lugar ficará abandonado. Eu vou passar fome, porque eu só sei trabalhar com isso. Moro aqui na Ladeira João Homem há 35 anos e trabalho aqui na Praça há 10. Quem vai dar emprego para uma senhora da minha idade sem qualquer outra qualificação profissional além de ser comerciante? Se eles querem fazer obra, tudo bem, mas que deixem a gente trabalhar. Vão nos tirar daqui para colocar lojas caras na Travessa. Dentro do Píer Mauá, uma estátua pequena do Cristo Redentor custa 50 reais. O mesmo souvenir, eu vendo aqui por 10 reais. Por isso que querem nos tirar daqui — denuncia a comerciante Damiana da Silva.