Na última edição de AND ressaltamos uma nuance da chamada “crise dos refugiados” na Europa que tem sido solenemente ignorada pelo monopólio da imprensa capitalista, que é o macabro processo de seleção, por parte da grande indústria alemã, de refugiados sírios e de outras nacionalidades castigadas pela miséria e pela guerra semeadas pelo imperialismo. Mostramos que por trás do aparente “bom mocismo” de Angela Merkel para com os migrantes está um interesse objetivo de atender à demanda do imperialismo alemão por força de trabalho menos custosa e mais vulnerável a demissões, arrochos salariais e cortes de direitos. Mas mostramos também que, não obstante, à Alemanha do capital monopolista não interessa absorver toda a massa de pessoas que se batem em fuga da desgraça imperialista e que ora batem à porta da Europa, em um perverso jogo de ambiguidades que, entre outras consequências, ajuda a atiçar à ação dos grupos xenófobos que estão sempre à espreita e à espera do mote para botarem as asinhas de fora, tentando manipular os ânimos dos alemães — e logrando algum sucesso nessa empreitada, como mostrou a manifestação que reuniu 20 mil pessoas na cidade de Desden no dia 19 de setembro para celebrar o primeiro aniversário do movimento racista Pegida (Europeus Patriotas contra a Islamização do Ocidente).

Milhares de refugiados sendo escoltados na Eslovênia
Sendo assim, é fruto do manejo deste macabro processo seletivo, em que a Alemanha ora acena com empregos para refugiados, ainda que precários, ora fecha os olhos para ataques a estrangeiros por grupos fascistas mais exaltados, fecha fronteiras e delega a países como a Hungria o trabalho sujo de conter os migrantes à força.
É também à luz deste macabro processo seletivo sob a batuta da senhora Merkel que se deve entender a viagem dela, a própria, à Turquia, para entendimentos tête-à-tête com o facínora Recep Tayyip Erdogan. Em Istambul, Merkel prometeu a Erdogan apoio à entrada da Turquia na União Europeia, pedindo em troca que o “presidente” turco aceite ajuda da UE para financiar campos de refugiados onde seriam confinados os refugos do processo seletivo alemão, ou seja, os postulantes a refúgio que, uma vez recusados pelo magnata Ulrich Grillo (presidente da Federação da Indústria Alemã) e sua camarilha, transformam-se automaticamente em “imigrantes ilegais” e, como Merkel requisitou a Erdogan, poderiam ser deportados para a Turquia.
Naquele fim de semana pelo menos 28 pessoas não passaram pela primeira etapa desta infame peneira da sobrevivência, que é a travessia clandestina do mar Mediterrâneo ou do mar Negro. Entre os que morreram afogados nos dias 17 e 18 de outubro havia várias crianças, como tem sido tristemente comum em todo este cenário de barbárie. Até o início de outubro quase três mil pessoas já haviam morrido afogadas em 2015 só em tentativas de travessia do Mediterrâneo. Outras 300 perderam a vida tentando vencer o mar Egeu.