Nota da Redação do AND: Por ocasião dos 98 anos da Revolução de Outubro de 1917 dirigida pelo Partido Bolchevique, sob a chefatura de Vladimir Ilich Lenin, publicamos esta resenha do filme soviético Lenin em Outubro. A data que marca a insurreição armada na Rússia inaugurando a era da Revolução Proletária Mundial é 25 de outubro (segundo o antigo calendário juliano adotado na Rússia) e 7 de novembro (segundo o calendário gregoriano adotado no Brasil).

Capa do filme 'Lenin em Outubro'
A influência dos bolcheviques nos Soviet1 havia crescido desde a revolução democrática de fevereiro de 1917, e as palavras de ordem contra a guerra imperialista tomavam as praças.
Um governista faz um discurso a favor da guerra, com promessas de que o povo seria livre com a vitória. A posição bolchevique era clara: transformar a guerra imperialista em guerra civil, e pelo fim da guerra. Enquanto ainda discursava, o governista é coberto com roupas militares e alguém grita: “chega de conversa, agora vás para a frente!”. Cinicamente, o governista responde que não pode, pois é velho, e sai sob vaia geral. Então, um membro da Frota Revolucionária do Báltico conclama as massas a lutarem pelo fim da guerra e é vigorosamente aplaudido: “Hurra!”.
Lenin, que fora viver novamente no exílio devido às perseguições do governo provisório, chega clandestinamente a Petrogrado em 7 de outubro, acompanhado do camarada Vassili.
A titânica luta ideológico-política que era travada na sociedade — entre rumar para o parlamentarismo burguês, ou para a imediata insurreição armada e passagem de todo o poder aos Soviets — tinha reflexos no Partido Bolchevique. Após a tentativa frustrada de golpe comandada pelo general Krolinov, os partidos conciliadores apostavam suas fichas em uma viragem para o parlamentarismo burguês.
É convocado um pré-parlamento no qual os bolcheviques participam com nomes como Kamenev e Theodorovich. O Comitê Central (CC) aprova a retirada do partido deste pré-parlamento, mas estes deputados, com apoio de Zinovev, resistem à saída, sendo obrigados a fazê-lo pelo CC. Stalin, juntamente com Lenin, sustenta a posição de que uma participação nesta instituição, ainda que curta, só serviria para dar ilusões às massas de que o parlamento poderia resolver seus problemas.
Na histórica seção plenária do Comitê Central de 10 de outubro, Lenin defende a imediata preparação da insurreição armada. Contra ele se levantaram os mesmos Zinoviev e Kamenev. Na ocasião, Trotsky foi mais sorrateiro, propondo que a insurreição não começasse antes da instalação do II Congresso dos Soviets. Se aprovada, tal proposição serviria de alerta ao governo provisório. De forma enérgica, Lenin desmascara e derrota os traidores da Revolução. Conclama unir a Frota do Báltico, operários e exército. A insurreição requer decisão e coragem!
Entre as resoluções do CC, além da aprovação da insurreição, está o envio de delegados à frente de guerra e a outros rincões da Rússia. O Comitê Militar Revolucionário, adjunto ao Soviet de Petrogrado, comandado por Stalin, seria o Estado Maior da insurreição.
Uma cena retrata uma reunião de empresários, latifundiários e diplomatas estrangeiros (não se especificam os países, mas seguramente trata-se de Inglaterra e França). Eles tratam do repartimento da Rússia em troca de apoio a uma tentativa de golpe.
No dia 16 de outubro houve outra plenária do CC. Zinovev e Kamenev se levantam contra a insurreição e são novamente derrotados. Dois dias depois, Kamenev publica um artigo em um jornal menchevique revelando a preparação da insurreição pelos bolcheviques. Lenin propõe ao Partido a expulsão dos traidores.

Cena do filme que retratou a Revolução Proletária na Rússia
Prevenido, o governo provisório toma medidas contrarrevolucionárias, deslocando tropas da frente para Petrogrado e Moscou, promovendo uma caça de dirigentes bolcheviques, e planejando um ataque ao Instituto Smolny, então sede do Comitê Central do Partido Bolchevique, para a véspera da instalação do II Congresso dos Soviets.
No dia 21 de outubro, os bolcheviques mandam comissários do Comitê Militar Revolucionário a todos os destacamentos revolucionários. Nas fábricas, os operários se armam e ouvem atentos as orientações dos bolcheviques. O combate é iminente. Trotsky, como já havia tentado na plenária do CC do dia 10, aproveita uma seção do Soviet de Petrogrado e anuncia a data da insurreição. Esta atitude de Trotsky força os bolcheviques a anteciparem a insurreição para um dia antes do Congresso, impedindo que o governo de Kerensky esmagasse a Revolução.
Na noite de 24 de outubro (6 de novembro), Lenin chega ao Smolny e assume pessoalmente o comando prático da insurreição.
Em 25 de outubro (7 de novembro), os canhões do Cruzador Aurora dão o toque de alvorada para a era da Revolução Proletária Mundial, bombardeando o Palácio de Inverno. A Guarda Vermelha e as tropas revolucionárias ocupam pontos-chave, como os telégrafos, correios e Banco do Estado. O Palácio de Inverno, onde o governo provisório havia se refugiado à espera de reforços, é tomado pelas massas lideradas por seu Partido. Triunfa a Revolução!
Naquela noite, o II Congresso dos Soviets declara que todo o poder havia passado para os Soviets e, no dia seguinte, aprova o Decreto Sobre a Paz, propondo um armísticio de três meses e conclamando os operários dos países beligerantes a porem fim à guerra. Na mesma noite é aprovado o Decreto sobre a Terra, abolindo os direitos dos latifundiários sobre a terra sem qualquer indenização.
Tudo isso é apresentado no filme, pese o prejuízo causado pela adaptação, de uma forma ao mesmo tempo empolgante e bem humorada: os comissários do Comitê Militar atuando na frente de combate, o desespero do governo provisório, sua tentativa de capturar e assassinar Lenin, a confiança do proletariado nos bolcheviques e em Lenin, etc.
Lenin em Outubro tem como personagens centrais Lenin e Vassili, seu companheiro, segurança e estafeta que garantia a ligação entre Lenin e os dirigentes bolcheviques. Na casa simples de Vassili, Lenin trabalhava na preparação da insurreição, recebia informes e dormia no chão sobre tapetes e tendo livros como travesseiro. Vibrava com os informes sobre como as massas se rebelavam contra a guerra e o velho Estado e animava Natasha, companheira de Vassili, que, grávida, temia pelo futuro do marido e de sua família: “Tudo isso em breve terminará”.
Merecem destaque duas cenas em sequência: Na primeira, uma delegação do governo tenta desarmar os operários de uma fábrica. São, porém, astutamente embromados e postos para correr pelos trabalhadores. Na cena seguinte, Vassili informa a Lenin o acontecido. Às gargalhadas, e orgulhoso da autoridade das massas, o grande líder da revolução pede que lhe conte a história outra vez.
Vassili também lê uma carta de seu irmão, que vive no campo. Ele relata o trabalho com os jovens que chegam da frente de guerra. Narra que incendiaram a casa do latifundiário e que não sabiam se podiam tomar suas terras. Lenin responde animado: “Podem tomar!”. À pergunta do irmão de Vassili se devem expulsar os latifundiáros, Lenin responde: “Devem expulsá-los!”. Então Vassili conclui a leitura. “Eles pensaram em expulsá-los, mas decidiram executá-los”. Lenin, então, estusiasma-se: “É uma pessoa inteligente!”.
Na cena final, um turbilhão de massas em armas toma as ruas. Vassili abre uma porta de onde sai Lenin, que estava disfarçado e clandestino até então. “É Lenin!”, alguém grita. Redobra-se o ânimo. Lenin entra em um grande salão onde está reunido o Congresso dos Soviets. Aplausos e Hurras! Um operário diz, emocionado: “Ele é igual a nós!”.
Lenin sobe a tribuna e declara: “Camaradas! A revolução de operários e camponeses da qual sempre falaram os bolcheviques se realizou!”
Trovejam os acordes de A Internacional.
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Nota: