No último dia 31 de outubro, um avião de passageiros Airbus 320 da companhia aérea russa Metrojet despencou-se sobre o solo na península do Sinai, no Egito, matando um total de 224 pessoas, entre tripulantes e passageiros, quase todos russos. O avião caiu cerca de 20 minutos após decolar da cidade de Sharm el-Shiek, um balneário egípcio muito frequentado por turistas russos e europeus, com destino a São Petersburgo. Trata-se de um tão trágico quanto nebuloso episódio que já está direta ou indiretamente inscrito, dependendo das reais causas do incidente, a serem confirmadas, no acirramento das contradições interimperialistas no Oriente Médio.
Nos dias subsequentes ao desastre, após a circulação de boatos de que o Airbus teria sido abatido por um míssil, o oligopólio internacional da imprensa dos grandes grupos monopolistas, porta-voz da contrapropaganda do imperialismo ianque, repercutiu com mal contido entusiasmo as informações obtidas de fontes anônimas “ligadas à investigação do acidente” (investigação essa que parece ter sido levada a cabo em tempo recorde) de que o avião teria se partido em dois em pleno ar devido à explosão de uma bomba plantada pelo Estado Islâmico (EI) no compartimento de bagagens da aeronave.
A “mídia ocidental”, por assim dizer, evitou usar o jargão “atentado terrorista” para definir esta versão da causa do desastre, como o faria imediatamente se o avião destruído fosse de bandeira ianque ou europeia. Em vez disso, buscou instrumentalizar a ampla repercussão desta versão como informação de guerra, ou seja, para denotar um revés militar para Moscou, tudo sob o ronrom que USA e Reino Unido propagaram de que seus serviços de espionagem haviam interceptado mensagens de integrantes do EI planejando o ataque, e sob a declaração do próprio EI reivindicando a responsabilidade pelo ataque.
E assim, de súbito, o imperialismo ianque e o imperialismo europeu demonstraram grande sintonia com os seus “inimigos” do Estado Islâmico para transformar a queda do avião da Metrojet e a morte de duas centenas de russos em um pesado contragolpe, vitimando civis, imposto a Putin, cujo exército nas últimas semanas lograra conquistar significativas posições do território sírio para o controle de Bashar al-Assad — o que significa o mesmo que dizer que lograra conquistar posições para o imperialismo russo.