Há pouco mais de dois meses, uma sequência de ataques de caráter paramilitar conduzidos por fazendeiros, policiais e inclusive com participação de parlamentares do velho Estado culminou com o assassinato do indígena Kaiowa Simeão Vilhalva, 24 anos – segundo noticiamos na edição nº 157 de AND. A cruz de Simeão repousa agora na divisa da área retomada pelos indígenas com a Fazenda Fronteira, como símbolo da luta e resistência Kaiowa na determinação de ocupar definitivamente o seu Tekoha (território sagrado) de Ñanderu Marangatu, após décadas de esbulho e exploração pelos latifundiários.
Após os ataques, os assassinos seguem impune, a fazendeira que deu a ordem de comando para o ato que acabou com a execução de Simeão segue explorando o território e a demarcação da Terra Indígena segue suspensa por inércia do Executivo (Dilma\PT) e por determinação do Supremo Tribunal Federal (STF) que suspendeu o procedimento de retirada dos não-indígenas ainda em meados de 2005.
Enquanto a estagnação programada do Estado e o peso das armas do latifúndio pesam sobre as famílias de Ñanderu Marangatu, a violência e as violações não cessam. Lideranças da Tekoha denunciaram em entrevista ao Comitê de Apoio ao AND de Dourados, que entre o dia 18 e 19/11, 4 indígenas da comunidade foram presos de maneira arbitrária pela polícia. Dentre os presos encontrava-se Loretito Vilhalva, irmão de Simeão. Loretito foi condenado em 2011 por posse ilegal de arma, a qual usava para caçar, o fato teria ocorrido ainda em 2007. Após ser conduzido para a delegacia de Ponta Porã, Loretito foi solto sob a responsabilidade de se apresentar diariamente a “justiça” de Ponta Porã.
As lideranças da Tekoha Marangatu se mostram indignadas e denunciam que estas prisões tratam-se de uma política clara de criminalização contra as lideranças de Marangatu. “Estão buscando todos os processos antigos para nos punirem pela luta pela terra e fazer a gente recuar de nossa retomada. Roseli [latifundiária local] prometeu que isso aconteceria, que iriam nos punir, que a policia viria. Como podem punir um indígena de ter uma arma para caçar, enquanto os fazendeiros vem aqui armados e executam nossas lideranças?” desabafou Ava Apyka Miri , líder Kaiowa.
Os Kaiowa também denunciam que estão sofrendo cercos coercitivos realizados pelo Departamento de Operação de Fronteira (DOF), que continua rondando a terra indígena e que o município de Antônio João fechou as portas para eles. Os kaiowa não podem comprar na cidade e o clima de hostilidade pode ser sentido no ar.
Apesar de tudo, as lideranças anunciaram que não deixarão mais sua Terra ancestral e que dela só sairão mortos. Contra todos os ataques, violações e ações de criminalização resistirão avançando sobre suas terras. Garantem ainda que se a “justiça” e a gerência estadual não retirarem os invasores e não punirem os assassinos de Simeão, não terão alternativa, se não recuperar o que resta de seu território, por meio da continuidade da luta direta, pelo direito de acesso ao seu território.
MG: Indígenas ocupam ferrovia da Vale
Indígenas do povo Krenak iniciaram uma ocupação, no dia 13/11, de trecho da Estrada de Ferro Vitória-Minas, por onde a Vale – controladora da Samarco e da ferrovia –, transporta seus minérios para exportação. A ocupação é uma forma de chamar atenção para a situação calamitosa dos indígenas (e demais pessoas) que vivem na região, que perderam um dos seus meios de sobrevivência: o rio Doce. Geovani Krenak, líder da referida tribo indígena, disse em entrevista a BBC Brasil: “Com a gente não tem isso de nós, o rio, as árvores, os bichos. Somos um só, a gente e a natureza, um só. [...] Morre rio, morremos todos”.